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Desempenho da tilápia nilótica Oreochromis niloticus (L.) em gaiolas de pequeno volume

Performance of the nile tilapia Oreochromis niloticus (L.) raised in small volume cages

Resumos

Alevinos de tilápia nilótica Oreochromis niloticus (L.) com peso médio de 18,85 g, foram estocados em gaiolas de 1,7 m3 cada, em densidades de 75, 150, 300 e 600 peixes/m3 (T75; T150; T300 e T600), num delineamento inteiramente casualizado (4 tratamentos e 3 repetições), e criados por 196 dias, com ração comercial extrusada, flutuante, contendo 28% de proteína bruta. A cada 30 dias, 20% do lote de peixes de cada gaiola foi medido e pesado para determinar ganho de peso (GDP) e conversão alimentar (CA) de cada tratamento. Os resultados finais de CA e GDP para cada tratamento foram, respectivamente: para T75, 6,31:1 e 71,52g; para T150, 4,08:1 e 65.14g; para T300, 3,57:1 e 59,60g; e para T600, 2,96:1 e 69,17g. Em relação ao ganho de peso, T600 e T75 foram semelhantes (P > 0,01) sendo que T600 apresentou melhor CA que T75 (P < 0,01). Os tratamentos T150 e T300 apresentaram desempenho inferior a T600 ou T75. Os índices de CA e GDP obtidos no experimento, resultaram da interação de fatores como estresse térmico e luminoso, a baixa qualidade da ração comercial utilizada e a baixa taxa de reversão sexual do lote de alevinos adquiridos de produtores comerciais.

tilápia do Nilo; tanques-rede; capacidade de suporte; desempenho


To determine the carrying capacity and overall performance of the Nile tilapia Oreochromis niloticus (L.) in small volume cages, 5,850 sexually inverted fingerlings, averaging 18.85 g of live weight, were stocked in 1.3 m3 cages, at densities of 75, 150, 300, and 600 fish/m3 (T75; T150; T300, and T600). The 196-day long trial was set up in a totally randomized design, with 4 treatments and 3 replicates. Cages were set up in a 4-ha, 2 m average depth reservoir. Twenty percent (20%) of each cage stock were weighed and measured every 30 d to determine growth rate as weight gain (WG), and feed conversion rate (FCR). Fish were fed twice-a-day (09:00 and 17:00 h) an extruded, floating, 28% crude protein commercial diet. Feed consumption, mortality and water temperature were recorded at feeding time, and pH, dissolved oxygen (DO) and water transparency were recorded monthly. The first evaluation (30-d) showed FCR values between 0.68 and 2.40:1, and WG between 11.19 and 21.52 g. Best FCR values were recorded for T600. However, the stock could not repeat or maintain the initial performance level, and final results showed: FCR = 6.31:1 and WG = 71.52 g for T75; FCR = 4.08:1 and WG = 65.14 g for T150; FCR = 3.57:1 and WG = 59.60 g for T300; and FCR = 2.96:1 and WG = 69.17 g for T600. The best WG result was attained by T600, which was not significantly different of T75 (P<0.01). The FCR was better for T600 than for T75. The performance of both T150 and T300 was inferior to T600 and T75. Compared to literature data, the performance of Nile tilapia in this trial was very poor. Low cage effective depth (0.85 cm), causing thermal and brightness stress, poor quality of commercial feed and low sex reversal rate of fish stock could explain the unsatisfactory results here obtained.

Nile tilapia; cages; carrying capacity; performance


Oreochromis niloticus (L.) em gaiolas de pequeno volume

11 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP - Piracicaba, SP.I Schimittou, H.R. Comunicação pessoal, 1997.

Gustavo Luiz Naslausky Bozano2,5; Samer Ramos Monteiro Rodrigues3,6; Alexsandra Carmen Caseiro2,6; José Eurico Possebon Cyrino4*

2Pós-Graduandos do Depto. de Produção Animal - ESALQ/USP.

3Graduando em Engenharia Agronômica - ESALQ/USP.

4Depto. de Produção Animal - ESALQ/USP, C.P. 9 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

5Bolsista do CNPq.

6Bolsista da FAPESP.

*e-mail: jepcyrin@carpa.ciagri.usp.br

RESUMO: Alevinos de tilápia nilótica Oreochromis niloticus (L.) com peso médio de 18,85 g, foram estocados em gaiolas de 1,7 m3 cada, em densidades de 75, 150, 300 e 600 peixes/m3 (T75; T150; T300 e T600), num delineamento inteiramente casualizado (4 tratamentos e 3 repetições), e criados por 196 dias, com ração comercial extrusada, flutuante, contendo 28% de proteína bruta. A cada 30 dias, 20% do lote de peixes de cada gaiola foi medido e pesado para determinar ganho de peso (GDP) e conversão alimentar (CA) de cada tratamento. Os resultados finais de CA e GDP para cada tratamento foram, respectivamente: para T75, 6,31:1 e 71,52g; para T150, 4,08:1 e 65.14g; para T300, 3,57:1 e 59,60g; e para T600, 2,96:1 e 69,17g. Em relação ao ganho de peso, T600 e T75 foram semelhantes (P > 0,01) sendo que T600 apresentou melhor CA que T75 (P < 0,01). Os tratamentos T150 e T300 apresentaram desempenho inferior a T600 ou T75. Os índices de CA e GDP obtidos no experimento, resultaram da interação de fatores como estresse térmico e luminoso, a baixa qualidade da ração comercial utilizada e a baixa taxa de reversão sexual do lote de alevinos adquiridos de produtores comerciais.

Palavras-chave: tilápia do Nilo, tanques-rede, capacidade de suporte, desempenho

Performance of the nile tilapia Oreochromis niloticus (L.) raised in small volume cages

ABSTRACT: To determine the carrying capacity and overall performance of the Nile tilapia Oreochromis niloticus (L.) in small volume cages, 5,850 sexually inverted fingerlings, averaging 18.85 g of live weight, were stocked in 1.3 m3 cages, at densities of 75, 150, 300, and 600 fish/m3 (T75; T150; T300, and T600). The 196-day long trial was set up in a totally randomized design, with 4 treatments and 3 replicates. Cages were set up in a 4-ha, 2 m average depth reservoir. Twenty percent (20%) of each cage stock were weighed and measured every 30 d to determine growth rate as weight gain (WG), and feed conversion rate (FCR). Fish were fed twice-a-day (09:00 and 17:00 h) an extruded, floating, 28% crude protein commercial diet. Feed consumption, mortality and water temperature were recorded at feeding time, and pH, dissolved oxygen (DO) and water transparency were recorded monthly. The first evaluation (30-d) showed FCR values between 0.68 and 2.40:1, and WG between 11.19 and 21.52 g. Best FCR values were recorded for T600. However, the stock could not repeat or maintain the initial performance level, and final results showed: FCR = 6.31:1 and WG = 71.52 g for T75; FCR = 4.08:1 and WG = 65.14 g for T150; FCR = 3.57:1 and WG = 59.60 g for T300; and FCR = 2.96:1 and WG = 69.17 g for T600. The best WG result was attained by T600, which was not significantly different of T75 (P<0.01). The FCR was better for T600 than for T75. The performance of both T150 and T300 was inferior to T600 and T75. Compared to literature data, the performance of Nile tilapia in this trial was very poor. Low cage effective depth (0.85 cm), causing thermal and brightness stress, poor quality of commercial feed and low sex reversal rate of fish stock could explain the unsatisfactory results here obtained.

Key words: Nile tilapia, cages, carrying capacity, performance

INTRODUÇÃO

A criação de peixes em tanques-rede e gaiolas é uma das formas mais intensivas de criação atualmente praticadas e tem se tornado popular devido ao fácil manejo e rápido retorno do investimento (Christensen, 1989). Dentre os vários fatores que influenciam a capacidade de suporte, o desempenho e a sobrevivência da criação de peixes em gaiolas e tanques-rede, a escolha da espécie, a qualidade da água, as dimensões do tanque-rede, a alimentação e a densidade de estocagem recebem especial atenção (Beveridge 1984; 1987). Uma das espécies mais estudadas para aproveitamento em criação intensiva em tanques rede é a tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus, que introduzida no Brasil em 1971 em açudes do nordeste difundiu-se para todo o país (Proença & Bittencourt, 1994). Originária dos rios e lagos africanos, é a segunda espécie de peixe mais criada no mundo (Popma & Lovshin, 1996).

A tilápia do Nilo é uma espécie precoce que apresenta excelente desempenho em diferentes regimes de criação. Em sistemas extensivos, apenas com adubação dos viveiros, alcança produtividades de até 3.500 kg/ha/ano, em densidades entre 8.000 e 10.000 peixes/ha. Em regimes semi-intensivos, com renovação de água (10 L/seg./ha) e rações de boa qualidade, a tilápia nilótica chega a produzir 15.000 kg de pescado/ha/ano, em densidades de 20.000 a 30.000 peixes/ha.

De acordo com Carberry & Hanley (1997), em sistemas com alta renovação de água e aeração é possível a produção de 49.500 a 402.000 kg de tilápia/ha/safra e a tilápia nilótica apresenta ótimos resultados quando criada em tanque-rede. Com o uso de rações completas e gaiolas de pequeno volume, é possível atingir produtividades médias de 10 a 70 kg/m3. Tilápias permitem densidades de estocagem de até 250 kg / m3, tendo sido registrados produções records de 300 kg/m3 para a espécie neste tipo de sistema (Coche, 1982; Guerrero III, 1980; Lovshin, 1997; Schmittou, 1993).

As densidades nas quais as diferentes espécies podem ser estocadas é um importante fator na determinação do custo de produção em relação ao capital investido. Se a taxa de sobrevivência e crescimento não sofrerem alterações, quanto maior a densidade de estocagem menor será o custo unitário de produção. Deve-se esperar que as densidades variem de espécie para espécie. Este fator aliado a idade, tamanho, manejo, condições ambientais e alimentação, é crucial para obtenção de crescimento e produtividade máximos/ótimos (Coche, 1978).

Uma densidade de estocagem ótima é representada pela maior quantidade de peixes produzida eficientemente por unidade de volume de um tanque-rede. Produção eficiente não significa o peso máximo que pode ser produzido, mas sim o peso que pode ser produzido com uma baixa conversão alimentar, num período razoavelmente curto e com um peso final aceito pelo mercado consumidor (Schmittou, 1969).

Com o aumento da densidade de estocagem, a biomassa total também aumenta, porém o peso individual tende a diminuir, diminuindo também seu valor comercial. Por outro lado, a homogeneidade de peso entre os peixes aumenta à medida que se eleva a densidade de estocagem (Coche, 1978; Guerrero III, 1980; Carro-Anzalotta & McGinty, 1986).

O sistema de criação de peixes em tanques-rede ou gaiolas é classificado como um sistema intensivo de renovação contínua de água e a tilápia nilótica é uma das espécies mais indicadas para a criação em regime intensivo. Desta maneira, o presente trabalho visa definir parâmetros para a criação da tilápia nilótica em gaiolas para as condições da região Sudeste do Brasil, a fim de subsidiar a utilização da espécie na agroindústria da piscicultura (Beveridge, 1987; Colt & Montgomery, 1991; Schmittou, 1993).

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em uma represa do Campus "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, SP, com 4 hectares de espelho d’água e profundidade média de 2,0 m. Foram construídas doze gaiolas de tela de polietileno rígida, com malha de 15 milímetros entre nós, estruturada em barras de ferro de ¼ de polegada, e costurada com cintas plásticas dentadas, fixadas em cada nó da malha. As gaiolas foram apoiadas em flutuadores constituídos de seções de barras de tubos de PVC de 100 milímetros de diâmetro, colocados por toda a volta das gaiolas e fixados com abraçadeira de ferro tipo rosca sem fim. Cada gaiola tinha volume total de 2,00 m3 (2,00 x 1,00 x 1,00 m), com volume submerso de 1,70 m3 (2,00 x 1,00 x 0,85 m). Os tanque-rede eram circundados internamente por uma faixa de tela mosquiteiro (1 mm) de 15 centímetros de altura ao nível da água, servindo como contentor de ração.

As gaiolas foram ancoradas no local de maior profundidade (3,0 m) em duas séries de 6 gaiolas, distantes 3,0 m entre si, transversais ao fluxo de água. As densidades de estocagem utilizadas no experimento foram 75, 150, 300 e 600 peixes/m3. Utilizou-se uma população monosexo obtida pela técnica de reversão sexual, adquirida de um produtor comercial da região. Foi realizada uma biometria inicial, onde foram coletados os dados de comprimento total e peso de uma amostra de 20% do total de peixes estocados. A biometria foi considerada o ponto inicial do experimento.

Os peixes foram alimentados 2 vezes ao dia (9:00 e 17:00 horas) com ração comercial extrusada, flutuante, contendo 28% de proteína bruta. O manejo alimentar foi feito com a utilização de um barco. Foram realizadas biometrias a cada 28 dias para determinação do crescimento, ganho de peso e conversão alimentar de cada tratamento. Para tanto, as gaiolas eram levadas até a beira da represa e 20% dos peixes eram retirados com puçás, pesados e medidos. A temperatura da água foi monitorada nos horários de alimentação. Outras variáveis como pH, O2D e transparência da água foram monitoradas regularmente durante todo o período experimental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como não havia ração extrusada no mercado com granulação inferior a 4 mm, os grânulos da ração comercial disponível foram triturados e fornecidos aos peixes em sua fase inicial. Esta prática causou grande perda de ração através da tela das gaiolas. O contentor alimentar não foi eficaz devido a movimentação intensa dos peixes na hora do arraçoamento, fazendo com que os grânulos passassem por baixo do contentor, causando perdas de ração, o que prejudicou a conversão alimentar aparente. Gaiolas de menor tamanho podem apresentar problemas com perda de ração pelas laterais, principalmente se os contentores de ração não forem bem posicionados. Observações semelhantes foram feitas por Coche (1982), que obteve baixos índices de conversão alimentar em gaiolas de tamanho reduzido, devido à perda de ração através da tela da gaiola.

A troca da ração comercial por outra com os mesmos níveis de proteína bruta e demais características nutricionais não resultou em melhoria nos índices de desempenho dos peixes, como observado nas biometrias subsequentes. Os peixes continuaram a apresentar inapetência, mesmo quando a temperatura da água estava satisfatória (28°C).

Os dados relativos ao peso médio, ganho de peso, biomassa, consumo, conversão alimentar e densidades de cada gaiola (TABELAS 1, 2 e 3) mostram que o T75 foi o que obteve maior média de peso, seguido pelo T600, caracterizado por produzir mais quilos de peixe no mesmo espaço (1,7 m3). A maior densidade de estocagem (T600) foi a que apresentou melhor conversão alimentar, com um ganho de peso próximo ao maior ganho obtido (T75). As variações observadas para as variáveis de oxigênio dissolvido (O2D = 5,8 ± 1,9 mg/L), pH 6,6 ± 0,4, temperatura (27,5 ± 2,8oC) e transparência do disco de Secchi (45,0 ± 5,0 cm) estavam adequadas aos limites de conforto da espécie, e não tiveram influência significativa no desempenho dos peixes (Popma & Lovshin, 1996).

Foi observado desde o início que os peixes confinados nas gaiolas com maior densidade mostravam-se mais agressivos na captura do alimento. Nestas gaiolas foram obtidas conversões alimentares melhores, possivelmente devido à maior competição (efeito de grupo) dos peixes pelo alimento, causada pela alta densidade, fazendo com que houvesse melhor aproveitamento da ração. A porcentagem de invasão de peixes nestas gaiolas também foi menor, o que pode ser atribuído às mesmas causas da menor conversão. Apesar de a maioria dos autores concordar que o aumento das densidades de estocagem melhoram os índices de conversão alimentar e diminuem a heterogeneidade entre os peixes, alguns autores acreditam que quanto menores as densidades de estocagem melhor o desempenho dos peixes (Coche, 1978; Schmittou, 1993).

Os resultados mostram, porém, que o desempenho de qualquer dos tratamentos do experimento não foi satisfatório quando comparado aos dados encontrados em literatura, principalmente no tocante ao ganho de peso. O baixo consumo de ração foi se acentuando, e confirmado nas biometrias. Um ganho de peso de aproximadamente 70 g em 208 dias não é satisfatório e as biomassas máximas alcançadas nos diferentes tratamentos estão bem abaixo do encontrado na literatura em geral, com exceção às produtividades máximas recomendadas por Coche (1982).

Pode-se observar que os melhores índices de desempenho em ganho de peso e conversão alimentar, e consequentemente econômico, para a criação comercial de tilápias do Nilo criadas em gaiolas nas condições locais, são obtidos quando a densidade de estocagem é de 600 peixes/ m3. Estatisticamente, a densidade de estocagem de 600 peixes/ m3 e a densidade de 75 peixes/ m3 em ganho de peso são semelhantes (P > 0,01) sendo que o tratamento T600 obteve melhor conversão alimentar do que o tratamento T75 (P < 0,01). Os tratamentos T150 e T300 se mostraram inferiores em relação ao ganho de peso e conversão alimentar aos tratamentos T75 e T600 (TABELA 4). Substituindo nas equações da reta dias hipotéticos em cada tratamento, obtivemos a tendência de cada tratamento, mostrando que estendendo-se o tempo de criação o tratamento com maior densidade de estocagem (T 600) apresentaria um maior peso médio. Contudo isto seria inviável para uma produção racional de tilápias do Nilo, devido aos problemas encontrados e citados no experimento.

Infere-se que a baixa conversão alimentar obtida no experimento, comparada àquelas encontradas em literatura para a tilápia do Nilo, resulta da interação dos seguintes fatores: a ineficiência do contentor de ração, que ocasionou perdas; a baixa ingestão de alimento, devido ao tempo de alimentação inadequado para a espécie utilizada; a profundidade da gaiola (0,85 m úteis) promovendo estresse de temperatura e luminosidade, e a baixa qualidade da ração, que agravou os problemas de consumo e, por conseqüência, o ganho de peso sendo que os peixes não apresentaram consumo considerado normal para o peso médio provocando um alongamento no tempo de criação. A utilização do arraçoamento duas vezes ao dia não foi suficiente para a expressão de todo o potencial produtivo da tilápia do Nilo, em comparação aos dados da literatura.

Com a entrada no inverno e conseqüente abaixamento da temperatura da água (18 a 20°C à tarde), agravou-se ainda mais o problema do baixo consumo de ração pelos peixes. Uma vez tendo aumentado a temperatura da água (27 a 31°C à tarde) nos meses seguintes, não foi observado aumento exagerado no consumo. Esta paralisação no crescimento fez com que o experimento fosse finalizado. Como não havia mais resposta em crescimento dos peixes, os dados de conversão alimentar e ganho de peso tornar-se-iam piores e estenderiam o tempo de criação, que poderia exceder aquele observado para a espécie mesmo em condições extensivas.

Desde o início do experimento, notou-se que uma grande quantidade de tilápias existentes na represa se juntavam em torno das gaiolas durante os horários das alimentações inibindo o consumo de ração pelos peixes. Este problema poderia ter sido evitado se tivessem sido utilizados contentores flutuantes dentro da gaiola, impedindo que os grânulos de ração se aproximassem das laterais das gaiolas, ou se a gaiola fosse maior, permitindo que os peixes confinados se afastassem das laterais. Outro fator causador de estresse nos peixes foi a presença de predadores naturais como biguás (Phalacrocorax sp.) e garças brancas (Casmerodius albus) que pousavam sobre as gaiolas, e cobras d’água (Helicops sp.) que invadiam as gaiola para se alimentar das tilápias confinadas (a observação da predação por cobras d’água só foi possível devido a impossibilidade das cobras saírem das gaiolas após a predação).

Como já discutido, os dados de sobrevivência dos peixes foram mascarados pela grande invasão de tilápias do ambiente natural para dentro das gaiolas. A invasão pôde ser percebida devido a presença de tilápias rendali no interior das gaiolas e de tilápias nilóticas coletadas no final do experimento com tamanho menor que no início do experimento. Esta invasão também influenciou a determinação da taxa de reversão sexual. Na TABELA 5 temos o total de peixes com peso acima de 100 gramas retirados das gaiolas, comprimento e peso do maior e menor peixe retirado de cada gaiola quando na finalização do experimento, mostrando que haviam peixes com peso menor do que a média da primeira biometria, ratificando que houve invasão de tilápias nativas tanto rendali quanto nilótica, o que mascarou informações de peso médio e de mortalidade. As maiores porcentagens de invasão foram observadas nas gaiolas de menores densidade de estocagem devido a menor competição e maior agressividade dos peixes e porcentagem de sobrevivência foi mascarada pelas invasões, conforme podemos observar na TABELA 6.

Na finalização do experimento foram coletados dados sobre tamanho e peso do maior e do menor exemplar de cada gaiola, e contadas as tilápias rendali invasoras, assim como a mortalidade de cada tratamento, mostrando que baixas densidades de estocagem permitem que haja maiores invasões por não haver muita competição entre os peixes dentro da gaiola.

Foi realizada uma sexagem manual de uma amostra de 20% do total de peixes para verificação da porcentagem de reversão sexual. O resultado encontrado foi de 60% machos e 40% fêmeas. Apesar da possibilidade de a entrada de peixes de fora ter influenciado este resultado, podemos concluir que a grande quantidade de fêmeas influenciou o baixo peso dos peixes, e que a taxa de reversão sexual do estoque utilizado neste experimento foi muito baixa.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos, pode-se inferir que:

• Os melhores índices de desempenho em ganho de peso e conversão alimentar, e consequentemente econômico, para a criação comercial de tilápias do Nilo em gaiolas nas condições locais, são obtidos quando a densidade de estocagem é de 600 peixes/ m3;

• As baixas taxas de conversão alimentar observadas no experimento, comparadas àquelas encontradas em literatura para a tilápia do Nilo, resultaram da interação dos seguintes fatores: ineficiência do contentor de ração, baixa taxa de ingestão do alimento, a profundidade da gaiola (0,85 m úteis) e a baixa qualidade da ração.

• A utilização do arraçoamento duas vezes ao dia não foi suficiente para a expressão de todo o potencial produtivo da tilápia do Nilo, em comparação aos dados da literatura.

• A taxa de reversão sexual do estoque utilizado neste experimento foi muito baixa, e a grande quantidade de fêmeas do lote influenciou negativamente o ganho de peso dos peixes.

• Baixas densidades de estocagem permitiram que houvessem maiores invasões, provavelmente por não haver muita competição entre os peixes dentro da gaiola.

Recebido para publicação em 28.01.98

Aceito para publicação em 30.04.99

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  • Inicialmente, a ração comercial utilizada mostrou-se satisfatória. Porém, este resultado pode ter sido devido a utilização do alimento natural pela tilápia nilótica. Não existem referências ao uso do alimento natural como fonte de complementação nutricional para tilápias em gaiolas. Porém, de acordo com Schmittou
    I1 Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP - Piracicaba, SP.I Schimittou, H.R. Comunicação pessoal, 1997., sistemas aquáticos mais eutrofizados podem estar associados ao sucesso inicial deste empreendimento, principalmente nas fases de alevino e juvenil da tilápia nilótica, quando ela é muito eficiente na utilização do alimento natural. Após este início satisfatório, com a diminuição gradativa da eficiência do adulto em utilizar o alimento natural, os peixes tendem a apresentar sintomas de deficiências nutricionais. De fato, à partir do segundo mês do experimento os peixes começaram a se mostrar estressados, nervosos, anoréxicos e com despigmentação - escurecimento - da pele, e quando manejados para amostragem apresentavam espasmos musculares. Estes sintomas são característicos de deficiência de vitaminas do complexo B, principalmente da piridoxina (vitamina B
    6) (Halver, 1988). Este quadro não se alterou até o fim da pesquisa. O estresse causado por má nutrição é considerado pela maioria dos autores como o principal problema em criação de peixes em gaiolas. A necessidade de rações completas e balanceadas, para o desempenho adequado dos peixes, é unanimidade entre os autores.
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    Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP - Piracicaba, SP.
    IInicialmente, a ração comercial utilizada mostrou-se satisfatória. Porém, este resultado pode ter sido devido a utilização do alimento natural pela tilápia nilótica. Não existem referências ao uso do alimento natural como fonte de complementação nutricional para tilápias em gaiolas. Porém, de acordo com SchmittouI, sistemas aquáticos mais eutrofizados podem estar associados ao sucesso inicial deste empreendimento, principalmente nas fases de alevino e juvenil da tilápia nilótica, quando ela é muito eficiente na utilização do alimento natural. Após este início satisfatório, com a diminuição gradativa da eficiência do adulto em utilizar o alimento natural, os peixes tendem a apresentar sintomas de deficiências nutricionais. De fato, à partir do segundo mês do experimento os peixes começaram a se mostrar estressados, nervosos, anoréxicos e com despigmentação - escurecimento - da pele, e quando manejados para amostragem apresentavam espasmos musculares. Estes sintomas são característicos de deficiência de vitaminas do complexo B, principalmente da piridoxina (vitamina B6) (Halver, 1988). Este quadro não se alterou até o fim da pesquisa. O estresse causado por má nutrição é considerado pela maioria dos autores como o principal problema em criação de peixes em gaiolas. A necessidade de rações completas e balanceadas, para o desempenho adequado dos peixes, é unanimidade entre os autores. Schimittou, H.R. Comunicação pessoal, 1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Jan 2000
    • Data do Fascículo
      Out 1999

    Histórico

    • Recebido
      28 Jan 1998
    • Aceito
      30 Abr 1999
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