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Ocorrência de Distúrbios Fisiológicos em Manga, var. Tommy Atkins

Resumos

Procurou-se determinar os fatores da relação planta/ambiente que predispõem frutos da variedade de manga Tommy Atkins a apresentarem distúrbios fisiológicos. Para isso, foram analisados os posicionamentos dos frutos na planta, estádios de maturação e a relação vigor do ramo/fruto. As avaliações permitiram concluir que: a) o posicionamento dos frutos na planta não tem influência alguma na ocorrência das desordens fisiológicas; b) existe certa relação entre vigor dos ramos e a presença dos distúrbios nos frutos; c) o percentual de ocorrência dos distúrbios fisiológicos é altamente influenciado pelo estádio de maturação do fruto à colheita, sendo que, é de pequena monta em frutos colhidos precocemente.

manga; distúrbios fisiológicos


Factors of the relation plant/environment which predispose mangoe fruits, var. Tommy Atkins, to physiological disorders were determined. Therefore, fruit location in the plant, the degree of ripeness and the relation of vigor between branch/fruit were analysed. The results allowed the following conclusions: a) the fruit positioning in the plant has no influence on the occurence of physiological disorders; b) there is a certain relation between vigor of the branch and the presence of disorders in the fruit; c) the percentage of occurrence of physiological disorders is a function of the fruit ripeness degree at harvest time, being very small when the fruit is harvested early.

mangoes; physiological disorders


OCORRÊNCIA DE DISTÚRBIOS FISIOLÓGICOS EM MANGA, VAR. TOMMY ATKINS

V.R. SAMPAIO1,2; J.A. SCARPARE FILHO1

1Depto. de Horticultura-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

2Bolsista do CNPq.

RESUMO: Procurou-se determinar os fatores da relação planta/ambiente que predispõem frutos da variedade de manga Tommy Atkins a apresentarem distúrbios fisiológicos. Para isso, foram analisados os posicionamentos dos frutos na planta, estádios de maturação e a relação vigor do ramo/fruto. As avaliações permitiram concluir que: a) o posicionamento dos frutos na planta não tem influência alguma na ocorrência das desordens fisiológicas; b) existe certa relação entre vigor dos ramos e a presença dos distúrbios nos frutos; c) o percentual de ocorrência dos distúrbios fisiológicos é altamente influenciado pelo estádio de maturação do fruto à colheita, sendo que, é de pequena monta em frutos colhidos precocemente.

Descritores: manga, distúrbios fisiológicos

OCCURRENCE OF PHYSIOLOGICAL DISORDERS IN MANGOE, var. Tommy Atkins

ABSTRACT: Factors of the relation plant/environment which predispose mangoe fruits, var. Tommy Atkins, to physiological disorders were determined. Therefore, fruit location in the plant, the degree of ripeness and the relation of vigor between branch/fruit were analysed. The results allowed the following conclusions: a) the fruit positioning in the plant has no influence on the occurence of physiological disorders; b) there is a certain relation between vigor of the branch and the presence of disorders in the fruit; c) the percentage of occurrence of physiological disorders is a function of the fruit ripeness degree at harvest time, being very small when the fruit is harvested early.

Key Words: mangoes, physiological disorders

INTRODUÇÃO

A manga como a maioria das frutas tropicais apresenta sérios problemas de pós-colheita, seja por razões fisiológicas, seja por falta de pesquisas na área, deficiência crônica nos países onde esses cultivos ocorrem. Para as dificuldades referentes às pragas e doenças existem soluções que vão de boa condução do pomar aos tratamentos em pós-colheita (Sampaio, 1979 e 1980; Yamashiro, 1980). Dentro da problemática da comercialização da manga um dos ítens de maior importância refere-se aos distúrbios fisiológicos largamente verificados não somente no Brasil, mas em todas as regiões produtoras do globo.

Wainwright & Burbage (1989) agruparam os relatos existentes na literatura mundial sobre o assunto e montaram o seguinte quadro para denominações e sintomas dos vários distúrbios fisiológicos da manga: 1) "Flesh breakdown" - degenerescência dos tecidos da região entre o pedúnculo e o endocarpo; 2) "Jelly seed" - desintegração de polpa ao redor da semente; 3) "Lumpy seed" - ocorrência de massas brancas, uniformes, na polpa da fruta; 4) "Premature ripening" - amolecimento prematuro da polpa adjacente ao endocarpo; 5) "Ricey tissue" - pequenas lesões na polpa; 6) "Soft-nose" - amolecimento dos tecidos na região do ápice da fruta; e 7) "Spongy tissues" - com a polpa apresentando-se esponjosa e pálida. As descrições de muitas dessas desordens são similares e, sugerem ser diferentes manifestações do mesmo problema.

Ainda nessa revisão encontra-se a informação de que embora a degenerescência da polpa possa ser induzida por bactéria, nenhuma causa patogênica parece estar relacionada com os problemas enumerados. O enfoque pesquisado no controle dos distúrbios fisiológicos é o balanço nutricional, com especial atenção para o equilíbrio de cátions. Por similaridade do que ocorre com maçã, a hipótese mais provável, porém até hoje não comprovada, diz respeito aos níveis de cálcio nos frutos. Burdon et al. (1990), em pesquisa sobre a degenerescência da polpa, mais precisamente a" soft-nose", encontraram baixas concentrações de Ca nas áreas de ocorrência do fenômeno. Entretanto, entenderam que isso não seria prova suficiente, pois poderia ser efeito e não causa.

Outro aspecto que parece afetar a incidência das desordens é o ponto de colheita dos frutos. Isso foi demonstrado por Roy et al. (1990), na Índia, os quais notaram que frutos colhidos precocemente com densidade inferior a 1,0 para a variedade Alphonso, eram livres de distúrbios fisiológicos. O fato é relevante, pois a variedade Alphonso é muito susceptível a esse problema.

Katrodia et al. (1989) na Índia, analisando a ocorrência de tecidos esponjosos em mangas amadurecidas à sombra e naquelas expostas ao sol, concluíram que o distúrbio" Spongy-tissue" é desordem fisiológica localizada, tendo por causa o super aquecimento. Conforme Katrodia & Sheth (1989), os tratamentos de aquecimento da manga resultam em inatividade de enzimas e inibição de hidrólise de amido. Relatam experimentos de campo, onde o emprego de cobertura vegetal do solo, diminuindo o efeito do calor de convecção, teria eliminado a desordem.

Os distúrbios fisiológicos afetam e muito a comercialização da manga brasileira no mercado interno e notadamente no externo. Com o objetivo de obter informações básicas sobre o assunto, montou-se esta pesquisa, procurando-se determinar quais os fatores que na relação planta/ambiente, predispõem certa percentagem de frutos da mangueira, à apresentar distúrbios fisiológicos.

MATERIAL E MÉTODOS

As observações experimentais foram realizadas sobre frutos da variedade Tommy Atkins, enxertada sobre a variedade poliembriônica Espada. O pomar experimental foi implantado em 1988 em latossolo vermelho-escuro, série Luiz de Queiroz, no Departamento de Horticultura da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. As plantas vigorosas, então com cerca de seis anos de idade, receberam tratamento fitossanitário e adubações adequadas. O solo estava parcialmente recoberto por gramínea (Paspalum notatum), com a projeção da copa recebendo aplicação de herbicida de contacto. As observações foram feitas na safra 1993/94.

Experimento I - Posicionamento do fruto na planta: Os frutos foram colhidos em duas exposições, nascente e poente. Para cada situação os frutos tinham dois distanciamento do solo, próximos do mesmo e à meia altura da planta. A estes quatro tratamentos foi adicionado um quinto, que agrupou frutos do interior da copa da planta. O ponto de colheita foi o normal para frutos destinados à comercialização com colheita realizada a 13/12/1993. Os diferentes tratamentos foram amostrados para densidade por imersão em água. A parcela constou de dez frutos, sendo utilizadas quatro repetições para os tratamentos. Os frutos foram avaliados ao atingirem o ponto de consumo, determinando-se o número de dias para atingí-lo, o Brix da polpa e os tipos de distúrbios fisiológicos.

Experimento II - Estádio do fruto à colheita: Os frutos foram colhidos em três datas espaçadas entre si de 10 dias, ou seja nos dias 07, 16 e 27 de dezembro de 1993. Em cada oportunidade foram colhidos cem frutos, avaliados para densidade por imersão em água e divididos em dez grupos de dez frutos. Assim o experimento constou de três tratamentos (datas), com dez repetições. A avaliação seguiu os mesmos critérios usados no Experimento I.

Experimento III - Relação área foliar/fruto: Os frutos foram colhidos a 13/12/1993, em estádio considerado adequado à comercialização, em quatro situações diferentes, que constituíram os tratamentos experimentais, a saber:

Tratamento 1 - Um fruto por inflorescência de ramo de baixo vigor,

Tratamento 2 - Um fruto por inflorescência de ramo vigoroso,

Tratamento 3 - Dois frutos por inflorescência de ramo vigoroso,

Tratamento 4 - Três frutos por inflorescência de ramo vigoroso.

Para cada tratamento foram colhidos cinqüenta frutos, ou seja, cinco repetições de dez frutos. Os frutos sofreram avaliações obedecendo os mesmos critérios dos Experimentos I e II.

Para os três experimentos adotou-se na avaliação dos resultados a seguinte nomenclatura para os vários distúrbios encontrados:

A - Sintomas externos do "Soft-nose".

B - Secura próxima a região peduncular.

C - Geleificação da polpa.

D - Podridão do endocarpo e da semente.

Fez-se análise da variância para ocorrência de distúrbios, seguindo o modelo completamente ao acaso, usando-se o Teste de Tukey para o confronto dos tratamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimento I: Os resultados experimentais estão na TABELA 1. É dado a verificar que as diferentes exposições dos frutos, na planta, não influíram nas percentagens de ocorrência dos distúrbios fisiológicos. A análise estatística comprovou essa observação. As percentagens de distúrbios de 35,0, 40,0, 35,0, 27,5 e 17,5% para os tratamentos, podem ser consideradas altas. O menor índice (17,5%) foi verificado para frutos produzidos internamente na planta, porém pode-se observar pelo teor de SST e número de dias da colheita ao ponto de consumo, que estes frutos estavam mais atrasados no momento da colheita. Aliás os SST dos tratamentos alertam que a colheita foi feita antes da época ideal. Esta afirmação foi comprovada pelo teste de imersão em água, pois somente 2,5% dos frutos apresentaram densidade superior a um.

Os resultados encontrados nesta observação contrariam aqueles obtidos por Katrodia & Sheth (1989) que relataram a eliminação das desordens fisiológicas com o controle do aquecimento dos frutos no campo. No caso presente, nem a cobertura de gramíneas do solo, nem as diferentes exposições alteraram o nível de ocorrência dos distúrbios, que se mostraram presentes nos frutos da variedade Tommy Atkins. Dos distúrbios observados e expostos na TABELA 4, observou-se baixo nível de" Soft-nose". Aconteceram em maior frequência a secura da região próxima ao pedúnculo, a geleificação da polpa e principalmente os distúrbios na região do endocarpo e da semente.

Experimento II: Os resultados expostos na TABELA 2, demonstram claramente que os estádios de colheita dos frutos determinaram as percentagens de ocorrência de distúrbios dos frutos da variedade Tommy Atkins. A análise estatística encontrou diferenças a nível de 1% de probabilidade entre os três tratamentos (épocas de colheita). Assim para a primeira colheita realizada a 07/12/93 a percentagem de distúrbios foi de 7%, aumentou para 40% para colheita feita no dia 16 e atingiu valor da ordem de 62% para a colheita mais tardia realizada na data de 27/12/93. As determinações do número de dias da colheita ao ponto de consumo e os teores de SST dos frutos comprovam as diferenças entre os estádios de maturação dos frutos às colheitas. O teste de densidade dos frutos via imersão em água, embora tenha se mostrado de pouco interesse para a variedade Tommy Atkins, encontrou os valores de 0, 1 e 18% de frutos com densidade superior a um, para as três datas de colheita. Estes resultados estão de acordo com aqueles obtidos por Roy et al. (1990), trabalhando com a variedade Alphonso, na Índia. O exame da TABELA 4 mostra que os poucos distúrbios ocorridos na primeira colheita concentraram-se nas categorias" Soft-nose" e podridões na região do endocarpo e semente. Para a segunda colheita houve concentração maior para as desordens de geleificação de polpa e podridão na região do endocarpo e semente, com certa ocorrência de secura na região próxima ao pedúnculo. A colheita mais tardia mostrou sintomas generalizados dos distúrbios, com aumento notadamente de geleificação da polpa dos frutos. Nota-se neste experimento, assim como nos demais, a baixa incidência da podridão peduncular, o que atesta os bons tratamentos do pomar, e os cuidados de pós-colheita.

Experimento III: Os resultados experimentais expostos na TABELA 3 mostram diferenças entre os tratamentos. O tratamento que apresentou menor incidência de distúrbios (8%), foi aquele onde os ramos vigorosos portavam dois frutos. Este tratamento não diferiu daquele onde os ramos vigorosos seguraram apenas um fruto, porém foi superior estatisticamente aos demais, ou seja, um fruto por ramo de baixo vigor e três frutos por ramo vigoroso. O teste auxiliar, para determinação da densidade dos frutos através da imersão em água verificou a presença de apenas 2,5% de frutos com valor superior a um.

Quanto aos tipos de distúrbios, o exame da TABELA 4 revela que os de maiores ocorrências foram os de secura na região do pedúnculo e desordens nas regiões do endocarpo e da semente. Geleificação e "Soft-nose" também ocorreram, porém em menor escala.

CONCLUSÕES

- O percentual de ocorrência de distúrbios fisiológicos foi em função do estádio do fruto à colheita. Frutos da variedade Tommy Atkins colhidos precocemente tendem a apresentar menor incidência.

- O posicionamento da manga (variedade Tommy Atkins) na planta não teve influência nos níveis de ocorrência de distúrbios fisiológicos.

- A relação vigor do ramo/fruto mostrou ter conexão com os níveis de surgimento de distúrbios fisiológicos na manga, variedade Tommy Atkins.

Recebido para publicação em 26.09. 95

Aceito para publicação em 29.09.97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    Jan 1998

Histórico

  • Recebido
    26 Set 1995
  • Aceito
    29 Set 1997
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