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PREVISÃO DA EMERGÊNCIA DE Trissolcus brochymenae (ASHMEAD) E Telenomus podisi ASHMEAD (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM CONDIÇÕES DE CAMPO

Resumos

Procurou-se averiguar em condições de campo, a previsão da emergência de Trissolcus brochymenae (Ashmead) e Telenomus podisi Ashmead, parasitóides de ovos de Piezodorus guildinii (West.), usando um método baseado em graus-dia. A emergência total de adultos ocorreu depois que foram acumulados 211,2 graus-dia para T. brochymenae e 229 graus-dia para T. podisi . A precisão da previsão da emergência de mais de 50% de T. brochymenae foi melhor que a de T. podisi, e para ambas as espécies esta emergência ocorreu a 2-3 dias da data prevista.

previsão; graus-dia; parasitóides; Piezodorus guildinii; Glycine max


The present study was carried out to predict in the field, the emergence of Trissolcus brochymenae (Ashmead) and Telenomus podisi Ashmead, egg parasitoids of Piezodorus guildinii (West.), using a degree-day method. The total emergence of T. brochymenae and T. podisi was observed after the accumulation of 211.2 degree-day and 229 degree-day, respectively. The accuracy in the prediction of more than 50% of the emergence of T. brochymenae was better than for T. podisi , and for both species that emergence occurred 2-3 days before predicted date.

prediction; degree-day; parasitoids; Piezodorus guildinii; Glycine max


PREVISÃO DA EMERGÊNCIA DE Trissolcus brochymenae (ASHMEAD) E Telenomus podisi ASHMEAD (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) EM CONDIÇÕES DE CAMPO

F.J. CIVIDANES1,2; J.G. FIGUEIREDO1; D.R. CARVALHO1

1Depto. de Entomologia e Nematologia-FCAV/UNESP, CEP: 14870-000 - Jaboticabal, SP.

2Bolsista do CNPq.

RESUMO: Procurou-se averiguar em condições de campo, a previsão da emergência de Trissolcus brochymenae (Ashmead) e Telenomus podisi Ashmead, parasitóides de ovos de Piezodorus guildinii (West.), usando um método baseado em graus-dia. A emergência total de adultos ocorreu depois que foram acumulados 211,2 graus-dia para T. brochymenae e 229 graus-dia para T. podisi . A precisão da previsão da emergência de mais de 50% de T. brochymenae foi melhor que a de T. podisi, e para ambas as espécies esta emergência ocorreu a 2-3 dias da data prevista.

Descritores: previsão, graus-dia, parasitóides, Piezodorus guildinii, Glycine max

PREDICTION OF THE EMERGENCE OF Trissolcus brochymenae (ASHMEAD) AND Telenomus podisi ASHMEAD (HYMENOPTERA: SCELIONIDAE) IN THE FIELD

ABSTRACT: The present study was carried out to predict in the field, the emergence of Trissolcus brochymenae (Ashmead) and Telenomus podisi Ashmead, egg parasitoids of Piezodorus guildinii (West.), using a degree-day method. The total emergence of T. brochymenae and T. podisi was observed after the accumulation of 211.2 degree-day and 229 degree-day, respectively. The accuracy in the prediction of more than 50% of the emergence of T. brochymenae was better than for T. podisi , and for both species that emergence occurred 2-3 days before predicted date.

Key Words: prediction, degree-day, parasitoids, Piezodorus guildinii, Glycine max

INTRODUÇÃO

O conhecimento das exigências térmicas de parasitóides tem contribuído para o entendimento de vários aspectos da dinâmica destes insetos, relacionados principalmente com previsões de ocorrência no campo (Morales & Hower, 1981; Laing & Heraty, 1987; Schultz, 1990; Bernal & González, 1993) e interações ecológicas com seus hospedeiros (Dreistadt & Dahlsten, 1991; Thireau & Regniere, 1995). Geralmente, estes estudos são iniciados com a determinação, em laboratório, do tempo de desenvolvimento do ciclo biológico em várias temperaturas constantes, sendo a seguir observado se as exigências térmicas encontradas podem ser usadas para prever o desenvolvimento do inseto em condições de campo (Morales & Hower, 1981; Bernal & González, 1993).

Procurou-se verificar, sob condições de campo, a acuracidade da previsão da emergência de Trissolcus brochymenae (Ashmead) e Telenomus podisi Ashmead, parasitóides de ovos de Piezodorus guildinii (West.), os quais tiveram suas exigências térmicas determinadas em laboratório por Cividanes & Figueiredo (1996).

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi iniciado com a obtenção de colônias de T. brochymenae e T. podisi, a partir de ovos parasitados de P. guildinii coletados em culturas de soja existentes no Câmpus da FCAV-UNESP. Os parasitóides foram mantidos em gaiolas (25 cm diam. x 22 cm comp.) de plástico transparente com tampa de filó, sendo alimentados com mel puro diariamente.

Para a determinação do tempo de desenvolvimento do ciclo biológico (ovo-adulto) das duas espécies de parasitóides, foram usados ovos de P. guildinii obtidos a partir de adultos encontrados nas mesmas culturas de soja citadas acima e mantidos em gaiolas construídas conforme Corrêa-Ferreira (1985). As posturas foram coletadas pela manhã (08:00 - 09:00 h), sendo a seguir coladas (Zas-TrazÒ) em tiras de papel branco de 10x5 cm e submetidas ao parasitismo de T. brochymenae e T. podisi, durante cerca de 15 horas. Depois, foram introduzidas 1-2 posturas em pequenas gaiolas, feitas de tubos plásticos transparentes (2 cm diam. x 10 cm comp.), com as extremidades fechadas com voil, sendo usada uma média de 300 ovos de P. guildinii em cada um dos experimentos realizados. A seguir, as gaiolas foram levadas para o campo de soja onde foram fixadas no interior de plantas de soja escolhidas ao acaso e assinaladas por estacas. Diariamente, as gaiolas foram observadas para a detecção de adultos recém emergidos. Estas observações foram feitas após as 16:00 h, e os adultos encontrados foram colocados em álcool 70% e levados ao laboratório para se proceder a contagem dos mesmos. Este procedimento foi efetuado até não ter sido mais observada emergência de adultos por dois dias consecutivos.

Foram usados dois campos de soja para a condução deste estudo. No campo 1, a soja (cv. Foscarin) ocupava uma área aproximada de 1500 m2, e as posturas parasitadas pelas duas espécies de parasitóides foram introduzidas nos dias 15 e 16.03.96, enquanto no campo 2 a área plantada de soja (cv. Estrela) tinha cerca de 10.000 m2, e as posturas parasitadas por T. brochymenae e T. podisi foram introduzidas nos dias 04 e 05.04.96, respectivamente. Na época da introdução das posturas nos campos, as cultivares de soja encontravam-se no estádio de vagem completamente desenvolvidas (R4), segundo Fehr & Caviness (1977).

A soma do número de graus-dia foi feita por meio do método da triangulação simples (Silveira Neto et al., 1976), usando-se as temperatu-ras máximas e mínimas diárias e os valores dos limites térmicos inferiores de desenvolvimento de T. brochymenae e T. podisi determinados por Cividanes & Figueiredo (1996). As temperaturas utilizadas foram registradas na Estação Agroclimatológica da FCAV-UNESP, situada cerca de 700 m do campo 1 e 200 m do campo 2.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A duração do ciclo biológico (ovo-adulto) de T. brochymenae e T. podisi, considerando-se a emergência acima de 50% dos adultos, foi de 15-18 dias e 14-16 dias, respectivamente (Figuras 1 e 2). Para as duas espécies, o ciclo foi mais longo em abril, pois a partir do dia 19 daquele mês, ocorreram temperaturas mais baixas que as registradas no período dos experimentos anteriores, causando um menor acúmulo de graus-dia. A emergência total dos adultos ocorreu depois que foram acumulados em média 211,2 graus-dia para T. brochymenae e 229 graus-dia para T. podisi.


Figura 1 - Relação entre a porcentagem acumulada de emergência de Telenomus podisi e a acumulação de graus-dia acima de 13,2o C. Jaboticabal, SP-1996.


Figura 2 - Relação entre a porcentagem acumulada de emergência de Trissolcus brochymenae e a acumulação de graus-dia acima de 14,1o C. Jaboticabal, SP-1996.

Usando metodologia empregada por West & Laing (1984) para medir a acuracidade da previsão do método de graus-dias, pode ser notado que a previsão de emergência de T. brochymenae foi melhor que a de T. podisi (TABELA 1). No entanto, nos experimentos iniciados em 15 e 16 de março, a diferença entre data prevista e observada de emergência foi de apenas dois dias para ambas espécies. Nos experimentos iniciados em 4 e 5 de abril, a previsão de T. brochymenae foi semelhante as encontradas anteriormente, enquanto a de T. podisi melhorou, ocorrendo em ambos os casos diferença de três dias entre a data prevista e observada. Deve ser destacado, que durante os experimentos iniciados em abril, ocorreram nos últimos nove dias, temperaturas mínimas em média 5,7°C abaixo das que vinham ocorrendo em março-abril. O fato da previsão de T. podisi ter melhorado neste período, evidencia ser ele um parasitóide mais adaptado a temperaturas baixas do que T. brochymenae, evidência reforçada por T. podisi apresentar um limiar de desenvolvimento térmico inferior menor que o encontrado para T. brochymenae, os quais são 13,2°C e 14,1°C, respectivamente (Cividanes & Figueiredo, 1996).

Resultados semelhantes aos obtidos neste estudo foram também encontrados por Morales & Hower (1981), West & Laing (1984) e Bernal & González (1993). Deve ser destacado, que a acuracidade de qualquer modelo de graus-dia, que faça previsões com precisão de 10-15%, pode ser adequado para programas de manejo de pragas (Higley et al., 1986).

A ocorrência de fases do ciclo de vida de insetos podem ser observadas antes ou depois da data prevista por métodos de graus-dia. Parte destas diferenças se deve a erros na estimativa do limiar de desenvolvimento térmico inferior (Tb) e constante térmica (K) e erros associados ao método da triangulação (Bernal & González, 1993).

Deste modo, o modelo de graus-dia utilizado no presente estudo teve boa acuracidade, podendo ser usado para a previsão da emergência de T. brochymenae e T. podisi em programas de manejo de pragas da soja.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 20.04.97

Aceito para publicação em 19.09.97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    Jan 1998

Histórico

  • Aceito
    19 Set 1997
  • Recebido
    20 Abr 1997
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