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ESTUDO IN VITRO DA RUGOSIDADE SUPERFICIAL E DO PERFIL PROXIMAL DE AMÁLGAMAS CONDENSADOS CONTRA MATRIZES DE AÇO INOXIDÁVEL REUTILIZADAS

AN IN VITRO STUDY OF SURFACE ROUGHNESS AND PROXIMAL PROFILE OF AMALGAM CONDENSED AGAINST REUTILIZED STAINLESS STEEL MATRIX BANDS

Resumos

O objetivo deste trabalho in vitro foi avaliar a rugosidade e o perfil de restaurações de amálgama obtidas com a reutilização de uma mesma matriz de aço inoxidável. A rugosidade superficial e o perfil proximal de amálgamas, obtidos com três tipos de limalhas com variação da pressão de condensação, foram avaliados e submetidos à análise estatística. É importante notar que uma mesma matriz foi reutilizada 15 vezes para cada grupo testado. O aumento constante da rugosidade da primeira até a última utilização, assim como a alteração do perfil evidenciam a deformação progressiva da matriz, alterando significantemente a lisura e o perfil desejados na face proximal. Os resultados obtidos mostram, portanto, que as matrizes de aço devem ser consideradas materiais descartáveis.

Amálgama dentário; Rugosidade superficial; Perfil proximal; Bandas de matriz


The aim of this in vitro research was to evaluate both surface roughness and proximal profile of amalgam condensed against reutilized stainless steel matrix bands. Surface roughness and proximal profile of amalgam obtained from 3 brands of alloys were studied and submitted to statistical analysis. It is important to note that the same matrix band was used to perform 15 amalgam restorations. Roughness increased constantly from the first to the last sample and the profile projector demonstrated a constant deformation of the matrix band printed on the amalgam proximal surface. Results demonstrate that matrix bands should therefore be regarded as disposable items

Dental amalgam; Surface roughness; Proximal profile; Matrix bands


ESTUDO IN VITRO DA RUGOSIDADE SUPERFICIAL E DO PERFIL PROXIMAL DE AMÁLGAMAS CONDENSADOS CONTRA MATRIZES DE AÇO INOXIDÁVEL REUTILIZADAS* * Resumo da Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. ** Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade Guarulhos e de Mogi das Cruzes. *** Professor Orientador, Titular da Disciplina de Dentística Operatória da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Professor Associado da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Disciplina de Dentística das Faculdades de Odontologia das Universidades de Mogi das Cruzes e Guarulhos.

AN IN VITRO STUDY OF SURFACE ROUGHNESS AND PROXIMAL PROFILE OF AMALGAM CONDENSED AGAINST REUTILIZED STAINLESS STEEL MATRIX BANDS

Camillo ANAUATE NETTO** * Resumo da Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. ** Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade Guarulhos e de Mogi das Cruzes. *** Professor Orientador, Titular da Disciplina de Dentística Operatória da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Professor Associado da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Disciplina de Dentística das Faculdades de Odontologia das Universidades de Mogi das Cruzes e Guarulhos.

Dan Mihail FICHMAN*** * Resumo da Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. ** Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade Guarulhos e de Mogi das Cruzes. *** Professor Orientador, Titular da Disciplina de Dentística Operatória da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Professor Associado da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Disciplina de Dentística das Faculdades de Odontologia das Universidades de Mogi das Cruzes e Guarulhos.

Michel Nicolau YOUSSEF**** * Resumo da Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. ** Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade Guarulhos e de Mogi das Cruzes. *** Professor Orientador, Titular da Disciplina de Dentística Operatória da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Professor Associado da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Disciplina de Dentística das Faculdades de Odontologia das Universidades de Mogi das Cruzes e Guarulhos.

ANAUTE NETTO, C. et al. Estudo in vitro da rugosidade superficial e do perfil proximal de amálgamas condensados contra matrizes de aço inoxidável reutilizadas. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 3, p. 173-180, jul./set. 1997.

O objetivo deste trabalho in vitro foi avaliar a rugosidade e o perfil de restaurações de amálgama obtidas com a reutilização de uma mesma matriz de aço inoxidável. A rugosidade superficial e o perfil proximal de amálgamas, obtidos com três tipos de limalhas com variação da pressão de condensação, foram avaliados e submetidos à análise estatística. É importante notar que uma mesma matriz foi reutilizada 15 vezes para cada grupo testado. O aumento constante da rugosidade da primeira até a última utilização, assim como a alteração do perfil evidenciam a deformação progressiva da matriz, alterando significantemente a lisura e o perfil desejados na face proximal. Os resultados obtidos mostram, portanto, que as matrizes de aço devem ser consideradas materiais descartáveis.

UNITERMOS: Amálgama dentário; Rugosidade superficial; Perfil proximal; Bandas de matriz.

INTRODUÇÃO

O CLINICAL RESEARCH ASSOCIATES6 (1995), realizando pesquisa com dentistas americanos, constatou que 73,6% dos profissionais pesquisados declararam ser o amálgama de prata material de eleição para restaurações de Classe II em dentes permanentes, contra 20,7% dos que utilizam a resina composta pela técnica direta.

A adaptação das matrizes de aço visa devolver à porção proximal o seu contorno original. Quanto maior a cavidade, maior será a dificuldade para restaurá-la.

Em 1975 SANTOS JR. et al.18, contando com a ajuda da estereofotogrametria e usando cortes seriados, comprovaram que, após perdida a relação de contato, ou parte dela, dificilmente conseguiriam reconstruí-la, visto que, comparando-se os dentes antes e após a restauração, em nenhum dos casos foi devidamente reconstruída, tanto na sua localização como no seu formato original.

Ao se reconstruir a porção proximal, deve-se, portanto, modelar da melhor forma possível a matriz, para que esta se assemelhe ao contorno original. Uma restauração deve restabelecer a função do dente sem solução de continuidade com a superfície oclusal, mantendo o comprimento original da arcada e prevenindo a impacção alimentar e a compressão excessiva da papila gengival devido à forma de contorno incorreta.

Dependendo da carga empregada, da técnica de condensação e da matriz utilizada, poderá haver maior ou menor deterioração da matriz a cada reutilização.

Grande parcela dos profissionais reutiliza as tiras matrizes a exaustão, ou seja, as tiras só são descartadas quando se torna impossível a sua reutilização pelos mais variados motivos: rompimento da matriz causado pelo parafuso retentor, irregularidades causadas no bordo da tira matriz que impossibilitam a sua passagem pela ameia interdental, perfurações, entre outros.

Na tentativa de melhorar as características das matrizes a serem reutilizadas, muitos cirurgiões-dentistas retificam a face danificada da tira matriz, utilizando-se de cabos de espelho, tesouras, e outros instrumentos, com o fito de regularizar a sua superfície.

A tira matriz de aço utilizada com retentor ou porta-matriz deve estar com a sua superfície lisa e suas margens íntegras, para que não se imprimam riscos ou irregularidades e não se altere a boa adaptação marginal e cervical da tira, além de se diminuirem os riscos de fratura no momento da sua remoção, já que a irregularidade produzida na margem pode danificar a restauração.

Não existe consenso quanto à reutilização ou não de uma mesma matriz de aço, nem tampouco nenhum trabalho científico conclusivo mostrando que o ato de condensar o amálgama contra a matriz consegue alterar a lisura superficial e o contorno proximal de uma restauração de Classe II de amálgama.

Os principais fatores responsáveis pelo sucesso da reconstrução das faces proximais são: tipo de liga empregada, técnica de condensação, matriz, rugosidade superficial e perfil proximal, como avalia FICHMAN et al.9 (1977).

BARATIERI3 (1985) explica que, juntamente com a adequação do paciente e o correto preparo da cavidade, o tipo de liga é um fator que influi decisivamente no desempenho clínico das restaurações de amálgama.

FICHMAN; SANTOS8 (1982), quanto à carga empregada na condensação, afirmam que, para uma liga do tipo convencional, a pressão exercida é de vital importância; a afirmação dos autores de que, após uma boa condensação, o braço do profissional deverá ficar dolorido é verdadeira, embora, na prática odontológica do dia-a-dia isso seja difícil. Para as ligas do tipo esferoidal, deve-se revisar o conceito da pressão elevada. A pressão elevada, nesse último caso, é desnecessária e, até certo ponto, impossível, pois, por maior que seja o condensador, a tendência por ele apresentada é a de penetrar na massa do amálgama.

ANAUATE NETTO1 (1992) a utilizou trabalhando com ligas esféricas e carga de condensação de 0,7 kg e, para as ligas convencionais, 2 kg, ou seja, para as ligas convencionais, utilizou, aproximadamente, três vezes a carga empregada para as ligas esféricas, já que estas não necessitam de grande pressão.

ANAUATE NETTO et al.2 (1994) ponderam que, quanto à rugosidade superficial da porção proximal, muitas vezes, existe a impossibilidade de se realizarem as manobras de acabamento e polimento. O problema maior reside na sua porção mais gengival, prejudicada pela falta de acesso, causada pela interferência dos dentes contíguos e pela proximidade dos tecidos periodontais.

CARRANZA5 (1976) relata que a superfície de uma restauração deve ficar o mais lisa possível, a fim de dificultar a fixação de placa bacteriana. As rugosidades ou irregularidades superficiais não são lesivas por si só, mas pela placa que se acumula sobre elas.

JEFFREY; PITTS12 (1989) realizaram importante trabalho sobre o acabamento e polimento das restaurações de amálgama. Questionam eles até que ponto é preciso polir e qual o conceito de lisura superficial para o meio bucal. Para eles é um paradoxo preocupar-se demasiadamente com a superfície oclusal esquecendo-se da superfície proximal. Além da lisura superficial do amálgama, o contorno proximal da restauração é de importância capital no restabelecimento da relação de contato perdida, devolvendo a devida proteção aos tecidos de suporte. Para que o contorno proximal seja reconstruído, é imprescindível a utilização de uma matriz, que deverá ser pré-contornada de forma a dar continuidade à anatomia dental a partir das referências oferecidas pelo remanescente.

Embora a literatura consultada indique uma maior precisão de reconstrução anatômica para as matrizes individuais, sabe-se que, na prática clínica, o dentista utiliza mais amiúde as matrizes universais.

STUDERVANT19 (1968) afirma que as matrizes universais, além de sofrerem deformações provocadas pelo dentista, na tentativa de torná-las mais fiéis ao contorno original, podem sofrer deformações adicionais, provocadas pela impulsão do condensador ora contra a liga, ora contra a matriz. Isso, segundo o autor, pode ser detectado por radiografias, embora não seja possível determinar o quanto foi deformado.

Uma forma de medir numericamente quantos milímetros essa matriz deformou é a leitura feita in vitro com o auxílio de um projetor de perfil ou perfilômetro (LEITÃO14, 1982; RICHESON; SARRET17, 1986 e EIDE; BJORG7, 1987). No caso de coroas subcontornadas, o alimento é impactado para o sulco gengival. Nas coroas sobrecontornadas, existe uma marcante tendência para o acúmulo de placa.

LASCALA; MOUSSALLI13 (1980) afirmam que os dentes devem situar-se em equilíbrio e relação harmônica de vizinhança, ditada pela reconstrução correta da relação de contato. Essa situação anatômica, quando corretamente reproduzida nas restaurações, permite, no ato mastigatório, a orientação do bolo alimentar, protegendo a papila interdentária de choques traumatizantes.

MONDELLI et al.15 (1979); MONDELLI et al.16 (1982) comunicam que o uso excessivo e o estiramento exagerado das matrizes metálicas tornam o contorno proximal inadequado, muitas vezes apresentando um aspecto plano ou côncavo, ao invés de suavemente convexo. Para que esses resultados insatisfatórios não ocorram, torna-se necessário que as matrizes com irregularidades, dilacerações ou outros defeitos sejam descartadas.

HORSTED; MJÖR11 (1990) advogam que as matrizes de aço para amálgama deveriam ser consideradas como produtos semimanufaturados e descartáveis e que seu uso contínuo pode prejudicar o resultado final da restauração.

BARATIERI4 (1992) considera que a matriz de qualquer tipo deve ser descartada após a sua utilização; caso a mesma seja reaproveitada, o contato proximal poderá ser reconstruído de forma insatisfatória.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram confeccionados 45 corpos-de-prova em resina acrílica Dencor (Clássico, Artigos Odontológicos) a partir de uma matriz de resina acrílica de forma cilíndrica, que foi torneada de forma a ficar com três estágios. No estágio superior, foi realizado um preparo cavitário tipo "slot vertical" com as seguintes dimensões: ocluso-gengival - 6 mm, vestíbulo-lingual - 6 mm e áxio-proximal - 4 mm conforme ilustra a Figura 1.

Figura 1
- Vista "proximal" (A) e "oclusal" (B) da matriz de resina (esquema).

Preparou-se uma base tipo "estojo" em gesso pedra com o objetivo de posicionar e fixar o corpo-de-prova perpendicularmente, para a perfilometria, e paralelamente, para a rugosimetria, imobilizando-o no ato das leituras, já que este poderia girar, tornando-as impossíveis.

Esse dispositivo possui uma demarcação que possibilita a troca dos corpos-de-prova, reposicionando-os sempre da mesma forma, tornando coincidentes a linha do corpo-de-prova com a linha referência do posicionador.

As matrizes de aço foram devidamente colocadas no porta-matriz tipo Tofflemire e adaptadas de forma a envolver o preparo, devolvendo a parede faltante da caixa.

O ajuste da matriz contra a face do corpo-de-prova que representa a porção proximal foi realizado tracionando-se esta com o auxílio do porta-matriz, até a sua total adaptação e perfeita imobilização.

O correto posicionamento torna-se importante, já que a mesma matriz foi utilizada 15 vezes, simulando a realização de 15 restaurações.

Foram utilizadas as ligas Standalloy SF (Degussa S.A.), convencional, limalha superfina; Dispersalloy (Dentsply Ind. e Com. Ltda.), liga de fase dispersa, do tipo mistura; Luxalloy (Degussa S.A.), liga de fase dispersa do tipo mistura, pesadas em balança analítica e acondicionadas em embalagens plásticas identificadas, o mesmo ocorrendo com o mercúrio.

A dosagem liga e mercúrio em quantidade suficiente para preenchimento da cavidade, bem como o tempo e a velocidade de trituração foram realizados de acordo com a orientação dos fabricantes.

A condensação estratificada para a liga Dispersalloy e Luxalloy foi feita com condensador duplo no 3 de Ward, com movimentos de condensação ocluso-gengivais sempre perpendiculares à parede gengival da caixa, com carga de condensação calibrada em 0,7 kg e a condensação dos incrementos, realizada até o total preenchimento da cavidade.

A técnica de condensação utilizada para a liga Standalloy SF foi a de incrementos de amálgama a partir dos ângulos diedros, com movimentos de condensação em todos os sentidos, na tentativa de compactar a liga da melhor forma possível, até o total preenchimento da caixa; a carga utilizada para essa liga foi de 2 kg.

Para o controle da carga aplicada, utilizou-se o dinamômetro de coluna de mercúrio, que, com um sinal luminoso, indicava quando o valor previamente calibrado era atingido.

A condensação dos incrementos em cada corpo-de-prova foi executada com amálgama proveniente de uma única trituração, num tempo máximo de três minutos e trinta segundos, para que não fosse prejudicada a sua plasticidade, o que poderia acarretar alterações na força de condensação, porosidade, rugosidade superficial e perfil do corpo-de-prova.

Para cada série de 15 corpos-de-prova com determinada liga, foi utilizada uma mesma matriz: FKG.

Foram realizadas três séries de 15 corpos-de-prova totalizando, portanto, 45 corpos-de-prova, três ligas de amálgama diferentes e três segmentos diferentes de matriz, da mesma marca. Cada um dos três segmentos de matriz de aço foi, portanto, utilizado 15 vezes.

Após decorridas 72 horas, cada corpo-de-prova foi lido rugosimetricamente 3 vezes e perfilometricamente 5 vezes, totalizando 8 leituras para cada corpo-de-prova e 360 leituras no total.

A leitura das superfícies foi realizada pela ponta palpadora do rugosímetro SV 400 (Mitutoyo Corporation, Tokyo - Japan).

Os corpos-de-prova, devidamente posicionados no dispositivo fixador, foram submetidos à perfilometria.

As leituras no perfilômetro consideraram cinco linhas divisórias, assim denominadas: superior (S); média superior(MS); média (M); média inferior (MI) e inferior (I) (Figura 2B).

Figura 2
- Vista "proximal" do corpo-de-prova. A: Mapeamento do corpo-de-prova para rugosimatria. B: Mapeamento do corpo-de-prova para perfilometria. S = linha superior; M = linha média; I = linha inferior; MS = linha média superior; MI = linha média inferior.

Para a perfilometria, foram utilizadas cinco linhas, possibilitando um contorno que simulasse melhor o perfil proximal conseguido.

Os dados numéricos colhidos para a rugosidade, em micrômetros, e para o perfil, em milímetros, foram tabulados e submetidos à análise estatística.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à rugosimetria, a liga Standalloy SF, quando comparada com as demais ligas, Dispersalloy e Luxalloy, foi a que apresentou, na média, os valores mais elevados, sendo que a porção média nas três ligas apresentou os valores mais altos de rugosidade. Na segunda reutilização da tira de matriz de aço, nota-se, na média, um aumento de 31% na rugosidade e de 95%, na terceira, enquanto que na décima-quinta utilização constatamos um aumento de 173%.

Quando analisamos as médias de rugosidade por liga, o grupo Standalloy SF apresentou, na última utilização (15a), os números mais elevados (3,24 mm), enquanto que a liga Dispersalloy apresentou 3,23 mm e a liga Luxalloy, apresentou 2,57 mm.

Nas médias por porção medida, a porção média foi a que se apresentou significante estatisticamente em termos de rugosidade (3,55 mm), seguida pela porção superior (2,60 mm) e, depois, pela porção inferior (2,39 mm) (Tabela 1).

A Tabela 1 mostra a significância dos coeficientes para rugosimetria, em que a porção média apresentou significância estatística no nível de 0,1% quando comparada às demais porções, enquanto que a liga Dispersalloy apresentou significância no nível de 1% (mais lisa) quando comparada com as demais.

Quanto ao perfil, notamos que, já na segunda utilização da tira matriz, ocorreu uma deformação de 25%, na média, sendo que, na terceira, 37%, e, na 15a, 100%, quando comparadas com a posição inicial, ou seja, com a matriz sem nenhuma deformação.

A liga Standalloy SF apresentou, na média, a maior deformação na tira matriz, com projeção máxima de 0,417 mm. Após a 15a utilização, a liga que promoveu menor deformação na matriz foi a Dispersalloy (0,128 mm). Notamos que as porções que apresentaram as menores deformações foram inferiores para as três ligas testadas: Standalloy SF, 0,233 mm; Dipersalloy, 0,128 mm, e Luxalloy, 0,132 mm.

Analisando as médias de deformações por liga, notamos que Standalloy SF deformou mais a matriz (0,350 mm). Luxalloy deformou em 0,260 mm e Dispersalloy, em 0,250 mm na média.

Na média geral das porções medidas, a que causou menor deformação foi a inferior (0,164 mm) e, maior deformação, a porção média (0,369 mm).

A significância dos coeficientes para a perfilometria (Tabela 2) comprova que as demais porções testadas apresentaram significância estatística no nível de 0,1% quando comparadas com a porção inferior, enquanto as ligas Dispersalloy e Luxalloy também se apresentaram significantes no nível de 0,1% quando confrontadas com Standalloy SF, que foi a que provocou maior deformação na tira matriz.

Assim, notamos que este modelo apresentou um Coeficiente de Explicação de 90%, sendo que as variáveis importantes para a explicação do Perfil foram as seguintes:

  • Logaritmo da Reutilização: Conforme o modelo, depreende-se que, a cada 2,72 reutilizações, ocorre, em média, uma deformação no perfil da ordem de 0,0712 mm, sendo essa deformação maior nas primeiras reutilizações.

  • Porções Medidas: Comparativamente à porção inferior, observamos que todas as outras porções apresentaram deformações significativamente maiores, no nível de 0,1%, sendo que, na porção média, foi observada a maior deformação. Notamos, também, que a deformação ocorreu mais intensamente nas porções média superior e superior.

  • Ligas: no nível de 0,1%, as ligas

    Dispersalloy e

    Luxalloy provocaram uma deformação inferior à obtida na liga

    Standalloy SF, tendo essa última causado uma deformação de aproximadamente 0,09 mm, maior do que a das outras devido a sua maior granulometria e à técnica de condensação empregada, com carga de aplicação maior. Na comparação dos perfis obtidos após 15 utilizações para as ligas

    Standalloy

    SF,

    Luxalloy e

    Dispersalloy, fica patente a deformação maior da tira matriz obtida com a condensação da liga

    Standalloy SF.

Com relação à alteração do perfil, pode-se perceber uma mudança gradativa e constante em qualquer que seja a porção estudada. Já a partir da primeira utilização, é notória a predominância das alterações anatômicas produzidas pelo uso das limalhas convencionais. Seguindo-se a técnica proposta pela maioria dos autores, a carga elevada é necessária na condensação de tal material, embora produza uma alteração significante e severa do perfil, conforme as Figuras 3, 4 e 5.

Figura 3
- Imagens da tela do perfilômetro mostrando, em A, o perfil proximal do 1º corpo-de-prova com Standalloy SF e, em B, o 15º corpo-de-prova.

Figura 4
- Imagens da tela do perfilômetro mostrando, em A, o perfil proximal do 1º corpo-de-prova com Luxalloy e, em B, o 15º corpo-de-prova.

Figura 5
- Imagens da tela do perfilômetro mostrando, em A, o perfil proximal do 1º corpo-de-prova com Dispersalloy e, em B, o 15º corpo-de-prova.

Com as outras limalhas do tipo mistura, embora a alteração seja menos drástica, é bastante evidente a partir da primeira ou da segunda reutilização.

A deformação da matriz de aço na região da relação de contato interproximal ocorre até quando a matriz encontra-se com o dente vizinho. A partir desse momento, a deformação da matriz passa a ocorrer nas porções mais cervicais, agravando-se cada vez mais à medida que aumenta a reutilização.

As alterações provocadas pela reutilização da matriz podem favorecer o aparecimento de lesões periodontais a curto ou médio prazo. Assim sendo, as matrizes devem ser descartáveis. O uso repetido da matriz originará uma superfície muito irregular, de difícil limpeza e desinfecção.

CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos e pela análise estatística empregada, é possível e lógico concluir o que se segue:

I. A rugosimetria dos corpos-de-prova de amálgama, na sua porção proximal, com a utilização seguida de um mesmo segmento de matriz de aço inoxidável, aumenta constantemente.

II. A deformação sofrida pela tira de matriz, com o seu uso repetido, causa, já a partir da segunda utilização, profundas alterações no contorno da restauração. Na condensação de ligas convencionais, essa deformação é mais drástica do que nas do tipo mistura.

III. As matrizes devem ser consideradas materiais semimanufaturados e descartáveis.

ANAUATE NETTO, C. et al. An in vitro study of surface roughness and proximal profile of amalgam condensed against reutilized stainless steel matrix bands. Rev Odontol Univ São Paulo, v. 11, n. 3, p. 173-180, jul./set. 1997.

The aim of this in vitro research was to evaluate both surface roughness and proximal profile of amalgam condensed against reutilized stainless steel matrix bands. Surface roughness and proximal profile of amalgam obtained from 3 brands of alloys were studied and submitted to statistical analysis. It is important to note that the same matrix band was used to perform 15 amalgam restorations. Roughness increased constantly from the first to the last sample and the profile projector demonstrated a constant deformation of the matrix band printed on the amalgam proximal surface. Results demonstrate that matrix bands should therefore be regarded as disposable items.

UNITERMS: Dental amalgam; Surface roughness; Proximal profile; Matrix bands.

Recebido para publicação em 23/11/96

Aceito para publicação em 22/04/97

  • 1
    ANAUATE NETTO, C. Estudo in vitro da rugosidade superficial da porção proximal de amálgamas condensados contra tiras matrizes de aço de diversas procedências São Paulo, 1992. 46 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo.
  • 2
    ANAUATE NETTO, C. et al. Tratamento imediato e mediato da superfície proximal de corpos-de-prova de amálgama com diferentes métodos usados na clínica. Rev Paul Odontol, v. 16, n. 4, p. 34-40, jul./ago. 1994.
  • 3
    BARATIERI, L. N. Avaliação clínica de uma liga experimental para amálgama Bauru, 1985. 53 p. Tese (Doutorado) - Faculdade de Odontologia, Universidade de São de Paulo.
  • 4
    BARATIERI, L. N. Dentística: procedimentos preventivos e restauradores. 2. ed. Rio de Janeiro : Quintessência, 1992. 476 p.
  • 5
    CARRANZA, F. A. Compêndio de Periodoncia, 3. ed. Buenos Aires : Mundi, 1976. 235 p.
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  • 7
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  • 8
    FICHMAN, D. M.; SANTOS, W. Restaurações à amálgama São Paulo : Sarvier, 1992. 218 p.
  • 9
    FICHMAN, D. M. et al. Matrizes e porta matrizes: avaliação da sua eficiência. Rev Fac Odontol Univ São Paulo, v. 15, n. 1, p. 39-44, jan./jun. 1977.
  • 10
    GOLDMAN. H. M. ; COHEN, D. Periodontia Trad. sob a supervisão de José Luiz Freire de Andrade. 6. ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1983. 572 p.
  • 11
    HORSTED, P. B. ; MJOR, A. I. Dentística Operatória moderna Trad. por Luiz Narciso Baratieri et al. São Paulo : Santos, 1990. 306 p.
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  • 14
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  • 18
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  • 19
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  • *
    Resumo da Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
    **
    Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade Guarulhos e de Mogi das Cruzes.
    ***
    Professor Orientador, Titular da Disciplina de Dentística Operatória da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.

    ****

    Professor Associado da Disciplina de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Disciplina de Dentística das Faculdades de Odontologia das Universidades de Mogi das Cruzes e Guarulhos.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Mar 1999
    • Data do Fascículo
      Jul 1997

    Histórico

    • Aceito
      22 Abr 1997
    • Recebido
      23 Nov 1996
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