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Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez na adolescência: percepção das jovens gestantes

Family talking about sexuality and pregnancy during adolescence: perceptions of pregnant adolescents

Resumos

Apresenta-se uma análise fenomenológica da ambigüidade na tomada de decisão em comportamento sexual de meninas adolescentes que vieram a engravidar. A análise foi contextualizada nas relações informativas e comunicativas entre filhas e pais sobre temas de sexualidade e cuidados contraceptivos. As considerações analíticas foram baseadas em entrevistas com onze adolescentes gestantes e uma jovem mãe, todos de nível sócio-econômico médio baixo, com idade entre 12 e 19 anos. A informação sobre prevenção foi percebida, pelas jovens, como parcial e incompleta e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de confiança no interlocutor preferencial (no caso, a mãe). A rede de apoio, constituída por tias e amigas, mostrou-se falha em apresentar esclarecimentos ou reduzir incertezas. Além de despreparados, os interlocutores apresentaram dificuldades associadas à falta de informação e a não aceitação da sexualidade adolescente. A interpretação destacou três aspectos relacionados com a gravidez na adolescência: 1) reafirmou a liberdade e iniciativa da mulher em relação à sua sexualidade; 2) confirmou a ausência da discussão franca e informada sobre sexualidade; e, 3) mostrou a substituição do mito do amor romântico pela expectativa clara do sexo prazeroso.

Gravidez; adolescência; fenomenologia; comunicação; sexualidade


This study presents a phenomenological analysis of the decision making ambiguity on sexual behavior by adolescent girls who become pregnant. The analysis was grounded in the informative and communicative relationships between daughters and their parents regarding sexuality and contraception care. The analytical considerations were based on 11 interviews with low middle class pregnant adolescents and one young mother, 12 to 19 years old. The analysis showed that the information the adolescents received about sexuality was incomplete, and that the communication process was hindered by lack of trust in those who tried to establish a dialogue with the girls, usually the mother. Also, the support net, composed by aunts and friends, did not provide the necessary information which was lacking. In fact, the sources of information were not sufficiently prepared to establish an efficient communication about sexuality with the adolescents because they lacked information and were prejudiced about adolescent sexuality. The interpretation pointed to three aspects related to adolescent pregnancy: 1) it reaffirms a woman’s freedom and initiative in relation to sexuality; 2) it confirms the absence of a candid and informed discussion about sexuality; and 3) it substitutes the myth of romantic love by the clear expectation of a pleasurable sexual encounter.

Adolescence; pregnancy; phenomenology; communication; sexuality


Conversas, em família, sobre sexualidade e gravidez na adolescência: percepção das jovens gestantes

Ana Cristina Garcia Dias

William B. Gomes 1 1 Endereço para correspondência : Instituto de Psicologia - UFRGS, Rua Ramiro Barcelos, 2600 sala 119, 90035-003 Porto Alegre, RS. Fone: (51) 3165115, 3165246, Fax: 3304797. E-mail: gomesW@vortex.ufrgs.br ou anadias@vortex.ufrgs.br

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

Apresenta-se uma análise fenomenológica da ambigüidade na tomada de decisão em comportamento sexual de meninas adolescentes que vieram a engravidar. A análise foi contextualizada nas relações informativas e comunicativas entre filhas e pais sobre temas de sexualidade e cuidados contraceptivos. As considerações analíticas foram baseadas em entrevistas com onze adolescentes gestantes e uma jovem mãe, todos de nível sócio-econômico médio baixo, com idade entre 12 e 19 anos. A informação sobre prevenção foi percebida, pelas jovens, como parcial e incompleta e a comunicação mostrou-se prejudicada por falta de confiança no interlocutor preferencial (no caso, a mãe). A rede de apoio, constituída por tias e amigas, mostrou-se falha em apresentar esclarecimentos ou reduzir incertezas. Além de despreparados, os interlocutores apresentaram dificuldades associadas à falta de informação e a não aceitação da sexualidade adolescente. A interpretação destacou três aspectos relacionados com a gravidez na adolescência: 1) reafirmou a liberdade e iniciativa da mulher em relação à sua sexualidade; 2) confirmou a ausência da discussão franca e informada sobre sexualidade; e, 3) mostrou a substituição do mito do amor romântico pela expectativa clara do sexo prazeroso.

Palavras-chave: Gravidez; adolescência; fenomenologia; comunicação; sexualidade.

Family talking about sexuality and pregnancy during adolescence: perceptions of pregnant adolescents

Abstract

This study presents a phenomenological analysis of the decision making ambiguity on sexual behavior by adolescent girls who become pregnant. The analysis was grounded in the informative and communicative relationships between daughters and their parents regarding sexuality and contraception care. The analytical considerations were based on 11 interviews with low middle class pregnant adolescents and one young mother, 12 to 19 years old. The analysis showed that the information the adolescents received about sexuality was incomplete, and that the communication process was hindered by lack of trust in those who tried to establish a dialogue with the girls, usually the mother. Also, the support net, composed by aunts and friends, did not provide the necessary information which was lacking. In fact, the sources of information were not sufficiently prepared to establish an efficient communication about sexuality with the adolescents because they lacked information and were prejudiced about adolescent sexuality. The interpretation pointed to three aspects related to adolescent pregnancy: 1) it reaffirms a woman’s freedom and initiative in relation to sexuality; 2) it confirms the absence of a candid and informed discussion about sexuality; and 3) it substitutes the myth of romantic love by the clear expectation of a pleasurable sexual encounter.

Keywords: Adolescence; pregnancy; phenomenology; communication; sexuality.

A gravidez na adolescência, desejada ou não, provoca um conjunto de impasses comunicativos no âmbito social, familiar e pessoal. No âmbito social, lamenta-se as falhas dos programas de educação sexual que, aparentemente, mostravam de modo claro e convincente como iniciar e usufruir com segurança a experiência da sexualidade. No âmbito familiar, a gravidez na adolescência parece indicar dificuldades nas relações entre pais e filhas e nas condições contextuais para o desenvolvimento psicológico da filha. No âmbito individual, a jovem gestante se questiona "por que isso aconteceu justamente comigo?" e "que será agora de minha vida?". Em outras palavras, a gravidez na adolescência traz sérios problemas para programas de saúde pública, para projetos educacionais, para a vida familiar, e para o desenvolvimento pessoal, social e profissional da jovem gestante como vem sendo reconhecido pela literatura (Steinberg, 1996). O problema exige da saúde pública programas de orientação, preparação e acompanhamento durante a gravidez e o parto, e também cuidados pediátricos e psicológicos. Da família, requer uma redefinição de crenças, atitudes e valores, e novos arranjos de espaço físico (mais uma cama), de tempo (cuidados com a criança) e de finanças (aumento das despesas). Da jovem implica em dificuldades com a escola ou com atividades profissionais. Sendo a gravidez desejada ou não, os planos pessoais serão revistos e as jovens terão que se defrontar com as dificuldades inerentes à nova realidade.

A descrição acima introduziu um problema psicológico complexo, mas que nem sempre recebe atenção de pesquisadores em psicologia, educação e saúde pública. Refere-se a um problema cotidiano que aparece nos jornais diários, é tema de conversas entre amigos, quando não é uma experiência real em família ou na família de amigos. No centro do problema estão as peculiaridades das relações entre mensagens informativas e comunicativas. Tecnicamente, uma mensagem é informativa quando reduz a incerteza por exclusão. Por exemplo, no caso de programas de educação sexual pode-se deparar com este modo informativo: ou isso é contraceptivo ou não é contraceptivo; ou se faz sexo com contraceptivo ou não se faz sexo. Mensagens informativas simplesmente definem um contexto de escolha. Continuando com o exemplo anterior, pode-se dizer que a informação circunscreve o contexto de uma relação sexual com o uso de contraceptivo para evitar gravidez e doenças transmissíveis. Por outro lado, uma mensagem é comunicativa quando constitui uma possibilidade de diferenciação por combinação. Por exemplo, no momento do ato sexual uma jovem adolescente pode pensar: e posso ou ficar grávida ou não e isso pode ou não acontecer comigo. Mensagens comunicativas caracterizam-se por formular um contexto de escolha. Continuando com o exemplo anterior, a escolha de contexto seria ter relações sexuais com os devidos cuidados para não engravidar e evitar doenças sexualmente transmissíveis (ver Lanigan, 1992, pp. 210-211).

O parágrafo deste texto introduziu a problemática da gravidez na adolescência e o segundo definiu a mesma problemática no paradoxo de mensagens informativas e comunicativas. Retome-se os exemplos que ilustraram uma e outra mensagem. Eles indicaram dois contextos gerais: 1) interpessoal, exemplificado pelas relações informativas e comunicativas que se estabelecem em atos de educação sexual, seja na mídia, na escola, entre amigos, ou em família; e, 2) intrapessoal, caracterizado pelo sentido ou interpretação que orienta um ato sexual, isto é, ter relações sexuais sem contraceptivos. No primeiro caso, trabalha-se com evidências da informação apresentada que estão presentes nas mensagens e materiais utilizados na educação sexual. No segundo, trabalha-se com evidências a posteriori, uma gravidez consumada. Na verdade, os problemas interpessoal e intrapessoal eclodem a posteriori na pergunta: "Por que as jovens engravidaram?"

O objetivo deste estudo é investigar o poder comunicativo de informações sobre sexualidade na constituição de sentido da experiência consciente do ato sexual de jovens adolescentes grávidas. Por constituição de sentido entende-se a capacidade reflexiva que faz do sujeito um intérprete da relação entre si e si mesmo, entre si e um outro, e entre si e o mundo. Na definição de sentido revelou-se o viés fenomenológico da pesquisa, conforme indicado na primazia da percepção de si, do outro e do mundo (ver Merleau-Ponty, 1945/1994, p. 94). Poder comunicativo refere-se tanto à semiose quanto ao poder semiótico. O termo semiose é usado para reafirmar a condição racional, simbólica, abstrata e lingüística da consciência (reflexividade) enquanto capacidade humana genérica de interpretar. O poder semiótico refere-se à força que direciona a consciência para o envolvimento em processos de existência (experiência) psicológica, isto é, o ato de querer, de decidir e de escolher. Sem esta força autoconsciente e semiótica não haveria nem desejo, nem pensamento, nem vida psicológica (Wiley, 1996).

A fenomenologia enfatiza a base empírica da experiência consciente, ou seja, a relação existente entre o sujeito que sente e pensa e o que deseja e age, sendo ambos o mesmo sujeito. Um outro modo de indicar essa relação é através dos processos comunicativos de percepção e expressão (Gomes, 1997). A percepção é a compreensão e interpretação da informação pelo sujeito, enquanto a expressão especifica ou define a compreensão em atitudes e comportamentos. Sendo assim, a expressão especifica a percepção e a percepção modifica-se pela expressão. Essa circularidade descreve a estrutura da atividade reflexiva do sujeito, ou sua consciência psicológica. A mesma circularidade ocorre nos processos comunicativos interpessoais que antecedem, acompanham ou interferem no desenvolvimento da atividade reflexiva (caracterizando o self semiótico). Assim, explica-se tanto a similaridade intrapessoal, isto é, a permanente noção do eu enquanto passado, presente e futuro, quanto a alteridade interpessoal, isto é, o permanente diálogo entre o self e o outro, sendo o interjogo entre similaridade e alteridade o que constitui as identidades do self (Gomes, 1997; Wiley, 1996).

A compreensão da experiência consciente das jovens gestantes, tomando como base a literatura sobre gravidez na adolescência, deve incluir três aspectos: 1) o ambiente onde estas jovens vivem; 2) as relações familiares e outras relações interpessoais significativas (amigos, parentes próximos, professores); e, 3) os dilemas e impasses que estas jovens vivem no silêncio de seus pensamentos e sentimentos, e nas suas decisões e ações. Temos assim formulada a premissa ontológica da fenomenologia, um corpo-sujeito situado em um mundo e em relação com outros corpos-sujeitos. É importante ressaltar a preocupação da fenomenologia com a corporeidade em destacar a unidade mente e corpo na constituição da consciência. A gravidez na adolescência é de fato um fenômeno no qual a resposta corporal de uma experiência consciente transforma-se na consciência da experiência de uma mudança corporal. Uma mudança radical de vida que se expressa na semiótica de um corpo que sinaliza uma gestação, que altera as relações interpessoais e que impõe reformas ambientais. Vejamos o que a literatura nos informa sobre esses três aspectos da experiência consciente da jovem gestante.

O primeiro aspecto pergunta pelo mundo circundante destas jovens. A literatura informa que estas jovens vivem a ambigüidade conhecida como revolução sexual, na qual o sexo desvincula-se de sua função reprodutiva e transforma-se em realização de prazer. Reprodução e prazer ganham espaços próprios e, embora imbricados um no outro, pode-se agora escolher livremente, com auxílio de contraceptivos, quando gozar e reproduzir ou quando simplesmente gozar. Argumenta-se, todavia, que a desvinculação entre prazer e reprodução não se fez acompanhar de uma discussão necessária sobre os valores envolvidos e uma compreensão adequada das próprias transformações do corpo (Desser, 1993; Silva, Sarmento, Landerer & Faundes, 1980). Tal condição aponta para uma falsa liberdade ou, em termos fenomenológicos, à ambigüidade do mundo circundante.

A ambigüidade da experiência consciente do próprio corpo estabelece um impasse entre o passo acelerado do desenvolvimento biológico e o passo lento e sinuoso do desenvolvimento psicológico. Se de um lado tem-se uma prontidão fisiológica do outro convive-se com uma imaturidade psicológica (Steinberg, 1996). Para complicar, a melhoria dos padrões alimentares oferecidas pelo mundo circundante antecipou o aparecimento da menarca, fato que encontra-se relacionado à fertilidade e a relações sexuais mais precoces (Kiperman & Jawetz, 1991; Monteiro & Cunha, 1994a; Silva, 1984).

Do mundo circundante também emerge a ambigüidade da percepção de uma mulher moderna, que resgatou para si o gozo sexual, antes uma exclusividade masculina (Bruns & Grassi, 1993). Essa mulher tem o controle de sua sexualidade mas deve legitimá-la na falsa expressão de uma imaculada inocência (Giddens, 1992). Inocência expressa no amor romântico da percepção de um intercurso sexual inesperado e distante da intenção de qualquer planejamento (Desser, 1993).

Por fim, o mundo circundante, além de apresentar-se ambíguo para a jovem gestante, faz dessa ambigüidade um mistério (Atwood & Kasinford, 1992). A beleza e prazer da sensualidade é amplamente apresentada e vivida nas mais variadas experiências do cotidiano. Está nos livros, na música, nos outdoors e nos filmes. É difundida com nitidez e em cores pela mídia. O mundo circundante oferece o elogio liberal e indiferente à sexualidade até que suas regras sejam transgredidas. Neste ponto pode tornar-se rígido e até mesmo punitivo (Agostini, Luz, Santos & Mendes, 1988; Bruns & Trindade, 1995; Garcia, 1985). Essa ambigüidade de valores é vivenciada pela adolescente através do que Takiuti (1989) descreveu como o "querer" versus o "não poder".

O mundo circundante pode ser definido, então, como o campo da experiência possível. Neste mundo estão os muitos outros que contribuíram para o surgimento e desenvolvimento do self e que continuam influindo nos modos de compreensão e interpretação do self semiótico. É na relação com o outro que a experiência enquanto consciência é especificada e revertida em consciência da experiência, que em outras palavras quer dizer a reversão do bom gozo (experiência consciente) para o gozo bom (consciência da experiência). O diálogo com esse outro substancia a discussão das relações entre prazer e reprodução sexual, entre desenvolvimento biológico e psicológico, e entre mulher inocente e mulher responsável. É esse diálogo que pontua a informação tênue e perdida no movimento acelerado da mídia (por exemplo, as vinhetas sobre o uso da camisinha em relações sexuais), a consciência da experiência do próprio corpo (por exemplo, o início da menarca), a cena estranha e excitante da novela, o forte sentimento de tocar e se deixar tocar por um outro corpo, quando não por si mesmo, e as dúvidas sobre os convites altamente sugestivos de amigas.

Quem seria esse outro do diálogo? Alguns estudos indicam a ocorrência de uma associação entre o aparecimento de características físicas pubertárias e um distanciamento progressivo entre os pais e seus filhos, podendo ser intensificados alguns conflitos, especialmente com a figura materna (Steinberg, 1996). Se o primeiro outro do diálogo é o pai, a mãe ou ambos, temos então algumas dificuldades a ser superadas. A experiência da sexualidade é um dos tópicos mais importantes e problemáticos do diálogo entre o adolescente e seus pais. Por exemplo, Blos (1962/1994) interpretou que é nessa fase do desenvolvimento que o jovem deve superar a bissexualidade infantil e assumir uma identidade sexual estável e condizente com seu sexo biológico.

O diálogo parece também difícil com um outro adulto próximo, como fala Harrison (1995). Primeiro, é difícil para o jovem estar no controle dos seus pensamentos, quando os sentimentos encontram-se em contradição. Segundo, o adolescente não consegue conversar com o adulto sobre comportamentos sexuais, pois a sexualidade também é uma experiência confusa para o adulto. Além disso, o próprio comportamento sexual adulto não oferece um modelo de controle para os jovens. Está comprometida então a condição de alteridade. Exige-se um controle do adolescente que o próprio adulto, muitas vezes, não possui. Perde-se também a condição de similaridade, pois se não está no outro e também não está em mim, onde estará o modelo? Acontece que o modelo de comportamento sexual expresso pelos pais é também uma expressão de suas dificuldades sobre a própria sexualidade.

A questão é como resolver a ambigüidade do mundo circundante, sabendo-se por princípio, como nos ensinou Merleau-Ponty (1945/1994), que a nossa percepção é sempre ambígua, podendo no entanto ser transformada em má ou em boa ambigüidade (Lanigan, 1988). Alguns autores supõem que o contato sexual se realizaria como uma maneira encontrada pelo adolescente de efetuar sua separação dos pais. O sexo poderia ser considerado uma promessa de êxito e felicidade, que dissiparia as dores e desafios do processo de crescimento e separação das figuras parentais (Blos, 1962/1994; Marcelli & Braconnier, 1989). O ato sexual poderia representar uma função relacionada ao status adulto e uma promessa de união a um outro que substituiria a figura dos pais. Haveria, então, uma ruptura abrupta com seu status infantil e com figuras parentais da infância. Essas representações seriam construídas a partir das influências culturais veiculadas pela mídia e pelos grupos de pares que levam o adolescente a idealizar a função sexual (Blos, 1962/1994; Luz, 1989). Sendo verdadeira a interpretação destes autores para o self semiótico dos adolescentes temos um exemplo de uma ambigüidade sendo transformada em má-ambigüidade.

A transformação da ambigüidade em boa ambigüidade passaria necessariamente pela educação sexual, preferencialmente através do diálogo com os pais, da colaboração da escola e de programas governamentais. A boa ambigüidade é exemplificada pelo grande contigente de jovens que, de um modo ou de outro, descobriram a sexualidade e têm no ato sexual uma força semiótica a favor do seu desenvolvimento psicológico. No entanto, cabe lembrar que enquanto o self semiótico tem uma estrutura genérica e igualitária, o poder semiótico varia dependendo da conjunção entre o biológico e o simbólico. Por condição genérica entende-se que todos nós simbolizamos de alguma maneira e por isso somos iguais. Contudo, nossas diferenças biológicas e culturais especificam a qualidade progressiva ou regressiva de nossas simbolizações. A introdução do conceito de poder semiótico traz o terceiro aspecto desta análise inicial: os dilemas e impasses que estas jovens vivem no silêncio de seus pensamentos e sentimentos, e de suas decisões e ações. O desenvolvimento psicológico alimenta-se de mensagens que, decodificadas e interpretadas na comunicação intrapessoal ou interpessoal, esclarecem as relações entre pensamentos, sentimentos, decisões e ações. No entanto, pergunta-se: o que acontece com as mensagens informativas sobre atividades sexuais, incluindo tanto os modos de usufruir prazer, evitar gravidez e prevenir doenças? Diante da seriedade do problema da gravidez na adolescência convém limitar o foco aos problemas de decodificação das informações sobre o uso dos métodos anticoncepcionais.

Os problemas de decodificação das mensagens sobre o uso de anticoncepcionais pelos adolescentes parecem associadas à idade (adolescentes mais jovens teriam a crença de que são muito novas para engravidar), baixa escolaridade, múltiplas e inconsistentes informações, medo dos pais descobrirem sua atividade sexual, receio de possíveis efeitos colaterais, dificuldades financeiras, e atividade sexual esporádica (Atwood & Kasinford, 1992; Dore & Dumois, 1990; Monteiro & Cunha, 1994a; Monteiro & Cunha, 1994b). Ademais, estudos (Maia Filho, Mathias, Tedesco, Cesareo, Herculano & Porta, 1994) indicam que a informação sobre métodos anticoncepcionais nem sempre é satisfatória, tanto na sua quantidade quanto na sua eficácia. Por exemplo, um estudo mostrou que cerca de 80% das jovens que engravidaram não utilizava nenhum método contraceptivo antes da gestação, sendo que apenas 5,4% haviam recebido alguma informação médica acerca do assunto. Pesquisa realizada na Santa Casa de São Paulo (Bueno, Neme, Neme, Aldrighi, Cassiani & Vera, 1996) concluiu que o principal meio de informação sobre anticoncepção era o médico, tanto para homens (44,2%) como para mulheres (74,4%). Em segundo lugar vinha a família com uma média geral de 17%, sendo os percentuais por sexo respectivamente de 7% para homens e 32% para mulheres. Nesse estudo constatou-se que 54,2% das adolescentes entre 14 e 19 anos que já tinham mantido relações sexuais não utilizavam nenhum método anticoncepcional. A principal razão relatada (53,4%) para a não utilização de contraceptivos por essas adolescentes foi a não manutenção de relação sexual no momento. A segunda razão citada foi a falta de informação sobre anticoncepção (20,6%), seguida pela despreocupação com os riscos de gestação (4,1%), por acharem que não ficariam grávidas (2,7%), por temerem os efeitos colaterais dos contraceptivos (2,7%), entre outras. Rodrigues, Souza, Brasil e Carakushansky (1993), em uma pesquisa realizada com adolescentes gestantes, encontraram que 59,9% das jovens não utilizava nenhum método contraceptivo, embora 67,6% dessas adolescentes tenha afirmado conhecer algum método de prevenção à gravidez. Apenas 32,3% disseram desconhecer qualquer tipo de método. E por último, Dias, Oliveira e Gomes (1997) também indicaram que adolescentes gestantes em atendimento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre haviam recebido algum tipo de informação sobre contracepção antes da gestação. O estudo revelou que apesar do reconhecimento da informação, as jovens apresentavam dúvidas sobre o uso adequado e idéias equivocadas de métodos anticoncepcionais. Estes resultados sugerem que a situação parece ser de fato mais grave ainda, pois a informação não está nem cumprindo sua função de reduzir incerteza sobre o comportamento sexual seguro.

Pergunta-se, então, o que se pode fazer quando as informações estão fenomenologicamente ausentes, isto é presentes no mundo mas ausentes para a percepção? Ou ainda quando as informações fazem parte da experiência consciente mas não se transformam em consciência da experiência? As dificuldades do self semiótico com as mensagens sobre prevenção de gravidez na adolescência podem ser estudadas de diversos modos. Este estudo volta-se para a pertinência do diálogo familiar como mediador entre a informação dispersa sobre sexo seguro e a comunicação intensa sobre sexo prazeroso. Sabe-se que a informação recebida sobre sexualidade, especialmente no contexto comunicacional da família, influencia o comportamento sexual do adolescente. A família tem um papel fundamental na regulação e desenvolvimento da sexualidade do jovem. Mas o que se fala sobre sexualidade no âmbito familiar? Pode-se dizer que houve problemas na comunicação sobre sexualidade entre pais e filhos nos casos em que há gravidez na adolescência? Por que essas jovens não adotavam um comportamento contraceptivo efetivo? Haveria alguma falha no tipo de informação que elas recebiam, ou no modo como lidavam com essa informação?

Método

Participantes

Foram informantes desta pesquisa onze adolescentes grávidas e uma mãe adolescente. A jovem mãe foi entrevistada por ser irmã de uma jovem gestante. Essas jovens freqüentavam um programa de assistência pré-natal oferecido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre, sendo recrutadas ou nas consultas do exame pré-natal com o ginecologista ou no grupo de orientação ao parto coordenado por psicólogas e enfermeiras. As jovens tinham entre 12 e 19 anos e estavam em um período entre cinco a noves meses de gestação. Duas delas moravam com o companheiro e as outras permaneciam morando com a família de origem. À época da entrevista, oito adolescentes ainda mantinham um relacionamento afetivo com seus namorados ou companheiros (pais de seus futuros filhos), sendo que estes tinham idade entre 16 e 23 anos. O nível de escolaridade das adolescentes variava entre a sexta série do primeiro grau até o segundo grau completo. Algumas já haviam abandonado a escola antes da gestação, outras pararam de estudar devido à gravidez e outras continuaram seus estudos. As jovens eram provenientes de famílias com uma renda familiar que variava entre novecentos e três mil reais.

Instrumentos e Procedimentos

Foi utilizado um roteiro tópico para entrevista baseado na literatura revisada (Tabela 1). Além de alguns dados demográficos, foram abordados temas relacionados à gestação, à informação sobre anticoncepção e à comunicação com os pais sobre sexualidade. O contato inicial foi realizado no grupo ou na consulta pré-natal, consistindo em uma explicação às jovens sobre os objetivos da pesquisa. Os pais das adolescentes foram convidados a participar através de um contato direto, por ocasião da consulta pré-natal ou através de uma carta-convite. A correspondência foi enviada através das adolescentes participantes do grupo de preparo ao parto. Algumas das entrevistas foram realizadas no corredor do hospital, outras em uma sala fornecida pelo serviço de Psicologia e outras na casa das adolescentes. No início da entrevista foi entregue à jovem um termo de consentimento informado de acordo com as normas do Comitê de Ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Resultados

A exemplo de estudos recentes (Gauer, Souza, Molin & Gomes, 1997; Leite & Gomes, 1998) o critério de análise qualitativa orientou-se pelos três passos reflexivos de descrição, redução e interpretação fenomenológica, conforme definidos por Merleau-Ponty (1945/1994). A análise incluiu também os aspectos semióticos como apresentados por Lanigan (1972) baseados em estudos da obra de Merleau-Ponty, considerando também revisões recentes da prática semiótica como por exemplo Santaella (1996) e Wiley (1996). Os procedimentos operacionais de análise seguem com certa proximidade o modelo de Amedeo Giorgi (1975) como ilustrados por Gomes (1998). Os fundamentos e aspectos técnicos dos passos reflexivos fenomenológicos serão retomados durante o decorrer da apresentação dos resultados.

O método fenomenológico requer em sua análise tanto a percepção captada dos entrevistados quanto a evidência das narrativas. O material percebido (fenomenologia) é, na verdade, a experiência consciente (síntese) do pesquisador das histórias contadas pelas adolescentes. Sua tarefa será materializar sua síntese no ato empírico da descrição. A evidência (semiótica) está nas falas de apoio recolhidas dos depoimentos das jovens, enquanto prova empírica (expressão) da experiência consciente das jovens gestantes (percepção). Como conciliar a experiência consciente do pesquisador com as evidências enquanto fragmentos das muitas histórias, recolhidas das entrevistas? O que garante que as escolhas de frases não estão sendo usadas como exercício retórico para confirmar o viés do pesquisador?

A conciliação entre a primazia da percepção e a exigência da evidência é obtida através dos movimentos sistemáticos e sistêmicos entre descrição, redução e interpretação. O movimento aparece entre uma descrição abreviada de um tema que se desloca imediatamente para sua redução, para ser confrontado a seguir pela interpretação. Na verdade, cada etapa inclui os três passos mencionados, isto é, refere-se a uma escolha (interpretação) que é especificada (redução) em forma de narrativa (descrição). Há, nestes procedimentos, um esforço do pesquisador para trazer o mundo das jovens gestantes (retorno ao mundo vivido) e oferecê-lo como objeto de análise, como disse Merleau-Ponty, (1945/1994, p. 94) "despertar os pensamentos que são constitutivos do outro, de mim mesmo enquanto sujeito individual e do mundo enquanto pólo de minha percepção". As entrevistas obtidas descreveram o contexto da gravidez de forma abrangente, em particular, em relação à primeira menstruação, as conversas sobre prevenção e sexualidade, ao uso de contraceptivos, e à primeira relação sexual. Esses temas serão descritos e analisados a seguir.

Primeiro Tema: Menarca, o Sinal para as Primeiras Falas sobre Sexualidade

Descrição Fenomenológica

As jovens iniciaram suas histórias, conforme sugestão do roteiro de entrevista, com a experiência da menarca. A primeira menstruação serviu como um primeiro sinal para as mães começarem a falar sobre prevenção de gravidez e sobre riscos de uma vida sexual ativa. Nas narrativas apareceram duas modalidades perceptivas quanto à experiência da menarca. De um lado, a menarca podia ser percebida como um acontecimento feliz e assim compartilhada com as outras mulheres da família, como um signo de aquisição de status adulto. De outro, podia ser vivenciada como uma coisa estranha e assustadora, cheia de mistérios.

Redução Fenomenológica

A descrição circunscreveu duas especificidades na experiência da menarca. Primeiro a definiu como um sinal de que algo novo estava tendo início na vida das jovens e que era o momento para prepará-las para esta nova etapa de vida. Segundo, que as reações à primeira menstruação foram opostas, ou de prazer ou de espanto. A função da redução será então ampliar esta parte para compreender que contextos estão em torno do prazer e do espanto. Para tanto será necessário, inicialmente, recorrer a alguns excertos de entrevistas que tipificam a questão. Serão tomados os casos de Márcia (os nomes usados são fictícios), que recebeu a menstruação com prazer ("Ah, eu fiquei toda boba"), e Patrícia que a recebeu com espanto ("O que será isso? Eu fiquei quieta"). Já o depoimento de Karine exemplificará a primeira menstruação como sinalizando o momento de iniciar a conversa entre mãe e filha. Vamos aos excertos:

Márcia: "Então eu me senti bem ... parecia que eu era maior, que tava deixando de ser criança"

Márcia: "A minha mãe falou que toda mulher tinha que menstruar, que era a natureza, que tinha perigo de engravidar"

Patrícia: "Eu era bem guriazinha. Eu não sabia de nada. Aí saiu uma coisa não era cor de sangue, era uma cor meio marrom ... Eu não contava prá ninguém".

Karine: "Ela falou que aquele sangue que tinha descido ... era a minha menstruação [depois] Ela sempre conversava comigo que era pra mim me cuidar, usar camisinha, pra que não acontecesse isso. Mas eu nunca dei bola para o que ela dizia, nunca mesmo"

Interpretação Fenomenológica

As falas das jovens, representadas por Márcia, Patrícia e Karine, introduzem com suas experiências a principal preocupação desta pesquisa — a comunicabilidade em família. Cada exemplo tipifica um contexto comunicativo. No caso de Márcia e Karine, a experiência parece atravessar facilmente do contexto intrapessoal para o contexto interpessoal. No caso de Patrícia a experiência é guardada em segredo no contexto intrapessoal. No entanto, é a fala de Karine que antecipa as dificuldades na significação da relação entre menstruação, sexualidade e gravidez: "eu nunca dei bola para o que ela dizia". Não fica claro, nas entrevistas, se há ou não alguma conjunção de fatores que possam responder por uma ou outra reação das jovens. Interpreta-se, então, que este primeiro movimento rumo à vida sexual ativa pertence à esfera intrapessoal, isto é, à história individual de desenvolvimento psicológico de cada um. De qualquer modo, a concretude corporal da menarca deflagra uma realidade irreversível – é impossível escondê-la. Voltemos ao caso de Patrícia:

"Eu fiquei quieta, eu só botei um papel higiênico na calcinha, pra não manchar a calcinha ... Daí a mãe do namorado da minha irmã viu aquele papel higiênico ali e perguntou quem é que estava menstruada".

A menstruação traz uma nova condição de vida que tem que ser experienciada na alteridade. Como será constituída essa alteridade? Com quem irão dialogar estas jovens?

Segundo Tema: Conversas sobre Prevenção e Sexualidade

O tema foi dividido em duas partes: o interlocutor preferencial e qualidade da informação.

Parte 1: O Interlocutor Preferencial

Descrição Fenomenológica

Conversas sobre prevenção e sexualidade ocorreram de algum modo na experiência das jovens. Contextualizam-se nas mudanças corporais que caracterizam o início da adolescência, na estimulação da mídia, na preocupação dos pais, na provocação das amigas ou na própria curiosidade das jovens. O problema passa ser, então, quem será o outro ou outros dessa interlocução. Por exemplo, será a mãe, o pai, a irmã, a tia, a amiga, ou professora na escola? E como se dará a passagem de uma relação informativa, na qual mensagens são veiculadas com o objetivo de esclarecer ou tirar dúvidas, para uma relação comunicativa, na qual mensagens são efetivamente compreendidas?

De acordo com os relatos, as conversas sobre sexualidade entre as jovens e suas famílias poderiam existir ou mesmo não existir. A ausência de conversas estava associada a sentimentos como vergonha de revelar sua intimidade, medo de não ser compreendida ou de interferências em suas vidas. As conversas com as mães foram caracterizadas como unilaterais ou bilaterais. Na primeira, o ponto de vista e os valores da mãe eram dominantes. Na segunda, as considerações, anseios e sentimentos da filha eram ouvidos. O pai não foi visto como alguém disponível para conversar. Com as irmãs, a conversa poderia se complicar devido a brigas e falta de confiança, uma vez que elas poderiam, logo depois, contar tudo para os pais. Quando a conversa era inexistente ou insatisfatória na família as jovens recorriam às amigas e tias, ou se contentavam com o que viam na televisão, liam em revistas ou discutiam na escola.

Redução Fenomenológica

Voltemos as entrevistas para demarcar alguns episódios nos quais as jovens falam de suas dificuldades comunicativas. A pergunta da redução é: onde está a barreira comunicativa, nas jovens ou em seus interlocutores?

Márcia: "De muitas coisas eu tinha curiosidade de perguntar, mas eu acabava não tendo essa coragem de chegar e perguntar pra ela. Por que isso? Por que aquilo? Essas coisas que como a gente fica moça, o corpo da gente vai desenvolvendo.(...) Muitas vezes ela não entrava no assunto, e eu também não tinha coragem de perguntar, tinha vergonha. Ela não falava pra mim se eu gostava de alguém, Ah, essas coisas assim de namoro, de relação. (...) Eu acho que ela falou uma ou duas vezes. Assim no ar, só o principal, não explicou os detalhes. (...) Se eu saísse com alguém, se fosse fazer alguma coisa com alguém, eu tinha que me cuidar. Era pra mim falar pra ela primeiro, quando eu sentisse que eu não ia agüentar mais. Quando eu tivesse vontade de fazer alguma coisa era pra mim falar pra ela, que ela iria me ajudar e me dar um comprimido, não sei o quê. Ia fazer com que não acontecesse o que aconteceu, mas aí eu não falei.(...) Eu até comentei com ela uma vez que se ela quisesse me dar os comprimidos ela podia me dar. Que ele já tava falando, conversando comigo sobre sexo, essas coisas. Então eu disse: ‘Ah, eu vou falar com ela’. Daí eu sei que eu falei com ela que se ela quisesse me dar a pílula pra ela me dar. Daí ela perguntou por que, se eu queria fazer alguma coisa ou se eu já tinha feito. Eu disse não, eu não fiz, daí ela disse: ‘Ai, Márcia, ainda não, tu é tão nova, não sei o quê. Não dá pra esperar mais?’ Daí eu falei: ‘dá’. Só que eu não sabia que não ia dar. ‘Dá, tá tudo bem’. Só falei pra prevenir mesmo, se acontecer. E aí ela conversou comigo, perguntou se eu ia agüentar mesmo. Tá, foi isso"

Daniele: "Eu conversava bastante com ela sobre essas coisas, mas nunca assim, dizia que eu ia fazer, sabe. Aí mesmo assim quando eu comentava com ela que eu ia fazer alguma coisa, ela já dizia que ia chorar, que ia ser o fim do mundo. Então eu sabia que ela ia fazer isso, quando aconteceu eu não contei nada pra ela".

Cristine: "Não, a gente sempre conversou. (O que vocês conversavam?) Eu não me lembro do que a gente conversava mas o que ela me perguntava era assim: como é que eu tava, se eu tava me cuidando, só".

A redução focaliza, primeiramente, a comunicação entre a jovem e a mãe. Márcia revela em seu depoimento seu conflito comunicativo intrapessoal. De um lado a curiosidade de desvendar os segredos de sua sexualidade, do outro a timidez de perguntar. No plano interpessoal, nota-se uma busca de troca, mas as informações vieram em fragmentos esparsos, acompanhados do imperativo "te cuida" e "avise quando chegar a hora". A hora chegou, houve indicações, mas a mãe achou que a filha podia esperar. Márcia não pôde esperar e engravidou. No caso de Daniele, parece ter havido um bom diálogo quando o tema era uma sexualidade conceitual, existindo apenas como possibilidade. Tentativas de trazer a sexualidade para o plano real não foram bem sucedidas e o diálogo deixou de existir. Em ambos os casos o diálogo entre os dois comunicantes não chegou a se estabelecer e a compreensão da uma prática sexual segura não se efetivou. Por fim, em Cristine existiu o diálogo mas praticamente sem nenhum impacto sobre a experiência da jovem.

A insatisfação decorrente das conversas com as mães leva as jovens a procurarem outros interlocutores. Os excertos seguintes nos mostram que nestes diálogos parecem haver uma maior proximidade e intimidade, mas as dúvidas sobre anticoncepção podem ainda persistir.

Márcia: "Com a minha tia já era mais aberto, sabe. E mesmo se a gente não quisesse perguntar, ela já começava a orientar a gente, falar com a gente".

Andreia: "Uma tia minha que sempre me explicava. Sempre explicava não, contava, então a gente pegava, assim, mais ou menos por cima assim as conversas."

Patrícia: "A minha tia já me falou (sobre anticoncepcional) mas eu não consegui entender."

Por sua vez, os homens não foram percebidos como um outro preferencial para esse diálogo. No entanto, o relato de Beatriz aponta para uma outra realidade da organização familiar contemporânea - a situação da filha de pais separados que mora com o pai.

"Com os dois, sempre foi aberto assim. Eles nunca esconderam nada nem de mim, nem dos meus irmãos, tudo sempre aberto.(...) Sobre tudo, sobre quando tinha dúvidas. Sexo, tudo a gente conversava. Até a mãe perguntava: ‘Ah os namorados?’ ... quando eu comecei a transar eu tava morando com o meu pai. E sempre com homem a gente fica mais constrangida, até o meu pai ficou meio chateado porque... ele: ‘Poxa, se tu tava morando comigo tu tinha que ter contado primeiro pra mim que tu tava grávida, não pra tua mãe’. Isso aí ele ficou super magoado conosco. Daí eu: ‘Ah, pai, tu tem que ver que mesmo a gente morando contigo, a gente se sente melhor conversando com uma mulher’. Mas ele ainda não entende, até hoje ele tem mágoa disso. Ele ainda, não entra na cabeça dele que é sempre melhor pra uma guria conversar com uma mulher do que se abrir com o pai, mas eu acho que tá legal."

O caso de Beatriz revela o desejo de um pai em estar próximo e aberto para a filha, disposto a participar reivindicando sua condição de proximidade física como justificativa de prioridade na conversa com a filha. No entanto, a proximidade de identidade foi a regra utilizada pela jovem ao escolher a mãe como confidente de sua gravidez.

Interpretação Fenomenológica

As barreiras comunicativas parecem existir em ambos os lados das interlocuções preferencias que, conforme especificadas pela redução, foram as mães e as tias. As mães, contudo, parecem fugir da realidade sexual das filhas e as filhas, por sua vez, podem não se sentir à vontade para expor suas vidas sexuais às mães. Na compreensão das mães, nunca é tempo para passar da orientação à prática. Alguns autores interpretam tal resistência como medo de que a orientação estimule o início da vida sexual (Jaccard & Duttis, 1993), quando outros estudos informam (Barnett, Papini & Gbur, 1991) que a orientação apropriada e em tempo oportuno adia a iniciação sexual da filha, aumenta a probabilidade de uso de contraceptivos e reduz o número de parceiros. Em contraste, na compreensão das filhas, a história de conversas passadas inibe a possibilidade de uma conversa franca sobre a situação presente, levantando ainda a suspeita de que a informação das mães não é confiável. Nota-se que a lógica interpretativa tanto das mães quando das filhas amarram-se no mesmo problema. Estão presas a um campo experiencial não suscetível à crítica, isto é, a ausência de confiança genuína no outro e em si mesmo impossibilita a troca de experiências e a transformação dos significados. Em termos comunicativos teríamos uma situação na qual a inibição da expressão (diálogo franco) sedimenta a percepção (da existência de barreiras para o diálogo).

A redução fenomenológica mencionou, ainda, a existência do diálogo com as tias. Nesse diálogo tais barreiras comunicativas analisadas no parágrafo anterior não deveriam ocorrer. No entanto, por que esse diálogo não atualizou as percepções das jovens? Tal problema nos remete para o difícil problema das relações entre informação e comunicação. Qual seria a qualidade da informação apresentada?

Parte 2: A Qualidade da Informação

Descrição Fenomenológica

Vamos tomar como descrição as falas das jovens sobre orientações sexuais recebidas em diferentes contextos para a seguir constituir uma compreensão do fenômeno.

Márcia: "A minha mãe, ela só falava. Ela falou do anticoncepcional, mas não explicou como seria, como se deve tomar".

Patrícia: "A minha tia me falou (sobre anticoncepcional) mas eu não consegui entender"

Márcia (referindo-se à tia): "Ela (a tia) conversa muito comigo, com minha irmã também. Daí ela disse que tu tem que tomar. Daí eu pedi pra ela comprar, mas eu não quis tomar [pois] ela disse que era meio forte, que eu podia engordar"

Cristine:"Ah, eu sabia pelo colégio. A gente aprende tudo. Com 16 anos eu já tava me formando no segundo grau, daí eu já sabia tudinho. Eles explicavam, a gente tinha aulas de slides, tudo. Até parecido com o que a gente tá tendo lá no hospital agora, sobre gravidez, gravidez na adolescência. Tudinho, eles explicavam sobre métodos anticoncepcionais".

Fátima: (referindo-se ao colégio): "Algumas eram interessantes porque aprendia coisas que eu não sabia, mas outras eu já tava careca de saber, daí eu não gostava".

Daniela (referindo-se ao colégio): "É mais frescura mesmo, é a gurizada tudo gritando, falando besteira. As vezes até falavam alguma coisa interessante".

As falas das jovens mostram que a informação sexual não reduziu a incerteza. Tal incerteza aparecerá de forma contundente nas falas seguintes.

Simone: "Ela que explicou a tabelinha que eu não tinha entendido. (...) Era assim, depois que tu fica menstruada, tem três ou quatro dias que não são férteis, né, e o resto do mês é tudo fértil. Eu fazia assim, eu achava que era assim, logo depois que eu tinha menstruado eu tinha relação, aí depois, dos 3 ou 4 dias não tinha mais, e eu não engravidava, eu achava que tava certo".

Fátima: "Eu conheço todos.(...) Alguns eu não sei como é que funciona em detalhes (...) Sei todos assim, não sei, detalhes eu não sei da tabela, mas também não é um método anticoncepcional seguro, então ..."

Patrícia: "Ah, a tabela eu não sei muito bem. A minha tia já me falou, mas eu não consegui entender. E o anticoncepcional não é 7 dias depois que para a menstruação, aí vai tomando, depois que termina espera vir.

Andreia: "Eu comecei a conversar depois que eu engravidei mesmo".

A descrição pode ser muito sucinta: as informações familiares ou extrafamiliares são incompletas e redundantes. Ressalve-se, contudo, que a leitura das entrevistas deixa claro que a amplitude da informação varia de caso a caso. Por exemplo, jovens melhor informadas tinham idade em torno de 19 anos e já haviam concluído o segundo grau.

Redução Fenomenológica

Estudos realizados nos Estados Unidos com populações carentes, no caso famílias afro-americanas (Hockenberry-Eaton, Richman, DiLorio, Rivero & Maibach, 1996; Tucker, 1989) mostraram que estas famílias não estavam preparadas para fornecer informações apropriadas. Havia algum conhecimento sobre ciclo menstrual, sexo e contracepção, mas nenhum conhecimento sobre anatomia, ato sexual, desenvolvimento sexual e modos de utilização adequada de anticoncepcional. Nota-se, no caso das jovens informantes, a ocorrência de uma pobreza informativa extensiva à sua rede de apoio e também dificuldades de compreensão dos métodos anticoncepcionais.

Interpretação Fenomenológica

A redução reconheceu a insuficiência das fontes de orientação sexual e a dificuldade de compreensão das jovens. Pode-se imaginar também que a informação disponível apresenta contradições, como por exemplo, a contradição entre as mensagens cautelosas das mães e as histórias sedutoras das tias e amigas. Note que está se deixando em suspenso os apelos sexuais do mundo circundante. As jovens são alfabetizadas e vivem num mundo onde informações sobre sexualidade são disponíveis, se existe curiosidade e disposição para procurá-las. A descrição revelou, ainda, que havia uma variação na capacidade de compreensão das jovens, com umas sabendo mais e outras menos. Tais considerações mostram os limites do plano puramente informativo na constituição de sentido de sexualidade segura entre as jovens. A pergunta que a interpretação levanta neste ponto da análise é a seguinte: que forças restringem a capacidade das jovens para buscar e compreender as informações e comportarem-se de acordo com as orientações que receberam?

Terceiro Tema: Uso de Contraceptivos

Descrição Fenomenológica

As jovens disseram que utilizaram algum método contraceptivo em algum momento de suas vidas sexuais. Os métodos citados foram: coito interrompido, tabelinha, camisinha e pílula anticoncepcional. Houve também a ocorrência de fecundação por falha ou compreensão equivocada de um determinado método. Esta descrição vai procurar reconstituir a experiência de uso de contraceptivos pelas jovens em três momentos. No primeiro, o interesse dirige-se para a experiência de uso do anticoncepcional. No segundo, o interesse desloca-se para a primeira relação sexual destas meninas. Finalmente, no terceiro, o interesse concentra-se em saber o que efetivamente aconteceu para o não uso do anticoncepcional numa determinada relação sexual. A descrição tem início com as falas das jovens sobre o uso de anticoncepcional, mostrando que elas possuíam uma certa familiaridade com alguns métodos contraceptivos.

Andreia: "Eu só usei um mês anticoncepcional porque no outro a minha irmã não comprou".

Valéria: "Eu tava tomando pílula. Eu engravidei com a troca do medicamento".

Daniela: "A maioria das vezes, dá pra dizer que foi rara as vezes que a gente não usou, mas assim que a gente não usou foi no começo. Então dá pra dizer mesmo que eu engravidei daquela vez.(...) Não é que a gente não usava, é que a gente foi pra praia, pra casa do pai dele que é numa fazenda, daí acabou, aí não tinha mais"

Fátima: "Sim, mas eu olhava os dias lá, e os dias que eu achava que dava, daí a gente fazia sem (camisinha)".

Karine: "Ele disse: ‘Ou tu toma anticoncepcional ou eu uso camisinha’, daí eu falei: ‘Tu usa camisinha’. Que a pílula eu não queria tomar porque dizem que deforma todo o corpo. E eu fiquei com medo que a mãe descobrisse. E ele usava, que justo, três vezes ele não usou, aí nessa última eu engravidei".

Perla: "Depois eu comprei remédio, daí eu não quis usar sabe? Eu li a bula, tava escrito um monte de coisas assim e eu tinha medo de tomar e complicar depois. Daí eu não tomei, foi passando. Aí, como a gente já tinha ido, daí eu fiquei grávida. Aí depois ele tava tomando uma injeção pra mim não engravidar".

Daniela: "Eu ia começar a usar pílula, no dia que veio a minha menstruação a mãe não tinha comprado ainda. Eu tinha que tomar no primeiro dia de menstruação, aí eu deixei pra fevereiro. Daí eu descobri que estava grávida".

Patrícia: "Não eu não fazia porque tinha uma época que eu usei e engordei demais. Parei de tomar. Mas eu não tinha namorado na época, eu não transava quase. Eu achei que não ia mais precisar".

Para responder a segunda pergunta serão focalizados quatro episódios representativos da primeira relação sexual dessas jovens. Estes quatro episódios foram escolhidos como exemplares por representarem diferentes possibilidades de experiências.

Episódio 1

Fabiana: "Aí, que já fazia tempo que eu queria perder a minha virgindade. Ai a gente resolveu que tava na hora, daí foi indo, foi indo. (...) Não sei, eu tinha aquela vontade de saber como é que era. Saber como é que era assim transar, deixar de ser virgem. O que quê ia acontecer de diferente. Eu tinha curiosidade em saber."

Episódio 2

Márcia: "Não, eu não planejava, mas como ele era experiente. (...) Eu acho que aconteceu por acontecer. Ele me envolvia mais. Ah, ele queria conversar sobre sexo, fazia perguntas pra mim.(...) Ele perguntava se eu já tinha transado com alguém, Ah porque não, um monte de perguntas. Se eu não queria ir.(...) Muitas vezes eu perguntava pra ele porque ele tava fazendo essas perguntas, se ele tava interessado, se ele tava pensando. Ah, a gente conversava assim abertamente".

Episódio 3

Karine: "Eu gostava dele um monte, mas foi mais pela influência da minha amiga por causa que ela (amiga) perdeu a virgindade. Daí eu era super amiga dela. Aí ela pegou e tava desesperada, dai ela disse pra mim: Karine tu me ajuda, me ajuda, me ajuda. E eu pra ajudar ela peguei e fui perder a virgindade também.

Episódio 4

Fátima: "Na casa de um amigo que também namorava, era a minha melhor amiga e o melhor amigo dele. Aí eles começaram a namorar também, daí foi tudo junto, no mesmo dia. Só o melhor amigo que não. O resto tudo era a primeira vez".

Temos, assim, quatro episódios e quatro diferentes perspectivas. Os episódios das demais entrevistas acrescentariam algumas nuanças ou contrastes, intensificando ou diluindo determinados aspectos das perspectivas apresentadas. No entanto, para os propósitos desta descrição esses episódios são suficientes para o prosseguimento da análise. Fabiana assume sua iniciativa, Márcia entrega-se à experiência do namorado, Karine sente-se convocada a iniciar sua vida sexual pela amiga, e Fátima apoia-se em um "ritual" de desvirginamento solidário.

A terceira e última pergunta é pragmática. Ela quer saber onde estava o contraceptivo no ato sexual do qual resultou a gravidez. As respostas, que estão nas falas apresentadas como resposta à primeira pergunta, mostram as seguintes variações: 1) o contraceptivo terminou e não havia como ser reposto (Daniele estava numa fazenda); 2) um outro que o casal não o providenciou (a irmã de Andreia não comprou); 3) não foi usado porque faz muito mal à saúde (Perla leu na bula que a pílula deforma o corpo); 4) o método falhou por mal uso (Fátima, referindo-se à tabelinha, disse que "os dias que eu achava que dava, fazia sem camisinha"; e Valéria engravidou com a troca de medicamento); 5) o método falhou por algum acidente intencional ou não (para Márcia o namorado furava a camisinha de propósito); e, 6) simplesmente, não foi usado contraceptivo pois havia a crença na imunidade pessoal ("comigo não acontece", acreditava Fabiane) ou não havia uma vida sexual regular devido à ausência de parceiro fixo (como no caso de Patrícia). A explicação de Fabiane traz uma outra dimensão do problema. Que tipo de interpretação estaria associada ao uso do contraceptivo, conforme o relato das jovens, e qual seria a lógica dessa interpretação? A pergunta nos remete para a redução fenomenológica.

Redução Fenomenológica

O imbricamento entre os temas da descrição requer uma discussão, ainda que breve, do conceito de redução ou epoché. Husserl (1913/1992), que introduziu o método, apontou para uma hierarquia de cinco reduções: 1) suspensão de teorias filosóficas, 2) assunção da própria percepção do mundo vivido suspendendo as pressuposições científicas, 3) suspensão da crença na existência do fenômeno em investigação, 4) abstração das propriedades gerais, idéias e formas do fenômeno investigado, evitando o confronto entre suas especificidades e generalidades, e 5) execução literal das quatro suspensões anteriores, permanecendo nesta etapa o sujeito reflexivo que interpreta com sua definição transcendental (subjetiva) do fenômeno (Husserl, 1913/1992; Lanigan, 1972).

Heidegger (1927/1988) modificou a redução husserliana de dois modos. Primeiro, trouxe a noção de situação hermenêutica, que é a totalidade de crenças e teorias que preexistem à percepção do fenômeno. É necessário que estas crenças sejam clarificadas em relação à experiência. Segundo, é a noção de situação primordial, isto é, a situação define a condição primordial do fenômeno. A implicação desta última é que não se perca a unidade do fenômeno relacionando-se com ele em movimentos reversivos de figura e fundo. Merleau-Ponty (1964) seguirá Heidegger definindo essa unidade como uma Gestalt radical que, em suas palavras, é "uma organização espontânea além da distinção entre atividade e passividade, das quais os padrões visíveis são os símbolos" (p. 77). Trata-se de uma unidade cuja "estrutura do comportamento [é] acessível tanto de dentro quanto de fora" (Merleau-Ponty, 1947/1964, pp. 23-24). A teoria fenomenológica move-se com Heidegger e Merleau-Ponty do exame de essências ou formas para o exame de existências ou comportamentos. A fenomenologia da percepção de Merleau-Ponty é, na verdade, uma fenomenologia do corpo situado. Um corpo que influi pesadamente na significação. Uma significação organizada em um sistema cujo centro é a abertura para um vínculo que, enquanto possibilidade, jamais será completamente livre (Merleau-Ponty, 1942/1975). O reconhecimento do corpo amplia e amarra a noção de Gestalt radical que passa a incluir o corpo, a figura e o fundo. Considerando que o movimento entre figura e fundo é reversível tem-se, então, um movimento circular de ausências e presenças constituindo significações, com sérias implicações para a percepção e expressão. A percepção é conhecida na ação e não no conhecimento acumulado da consciência mediata. Por sua vez, a mobilidade do corpo que percebe a situação estabelece contrastes entre aquilo que aparece e ausenta-se de cada vez. Cada figura que emerge combina-se com diferentes fundos (horizontes, perspectivas, possibilidades) formando compreensões tácitas que serão conhecidas pelo sujeito e pelo outro através da expressão (comportamento).

Os três temas em foco, ou seja, experiência com uso de contraceptivos, experiência da primeira relação sexual, e ausência de contraceptivo em uma determinada relação sexual constituem uma unidade cuja estrutura pode ajudar-nos a compreender o comportamento sexual seguro. A Tabela 2 transformou algumas frases ditas pelas jovens, como por exemplo, "Pode acontecer com os outros, mas comigo não acontece" (Fabiana) ou "Mas na hora a gente nem tá" (Andreia) em frases analíticas correspondentes a "crença pessoal de imunidade" para a primeira frase e "na hora não se pensa" para a segunda frase. A Tabela 2 propicia tanto uma comparação horizontal, que traz a peculiaridade dos casos, quanto uma comparação vertical, que revela o contraste entre os casos. Não deixa de ser um ensaio da difícil confrontação entre singularidades e universalidades. Contudo, é óbvio que o número de entrevistas requer cautela quanto à transferibilidade desses achados, para usar o termo de Guba (1981). De qualquer modo, tais recortes levantam-se como possibilidades desse determinado situacionamento no mundo que é a gravidez na adolescência.

Reconstituindo a experiência das jovens e usando a consciência de pesquisador como medida de julgamento (Lanigan, 1997) esta redução especifica que: 1) quanto à primeira relação sexual - houve algum tipo de preparação, algum tipo de cumplicidade com um outro enquanto parceiro ou mesmo um outro enquanto solidariedade, e algum tipo de expectativa, fantasia ou curiosidade; e, 2) quanto ao uso de contraceptivo – havia o reconhecimento da importância do uso, no caso, comprometido por diferentes eventualidades, podendo ser mal uso, descaso (crenças), compreensão equivocada ou recusa de uso. A Tabela 2 apresenta cinco estruturas distintas de relação com o contraceptivo. A primeira vincula crença com não uso, a segunda aponta para dificuldades de compreensão do método, a terceira mostra problemas com a decodificação de informação, a quarta transfere o cuidado para um outro, e a quinta traz o problema do sexo eventual no caso de não haver parceiro fixo.

Interpretação Fenomenológica

A revisão sobre suspensão fenomenológica mostrou que o compromisso do pesquisador é, na verdade, com a clarificação de seus preconceitos e com o apriosionamento do seu olhar. O olhar do pesquisador define-se no foco da pesquisa que, no caso, é a construção do sentido de sexualidade e de suas implicações em jovens adolescentes, através da comunicação. Um processo que se desenvolve e encontra limites no contexto interpessoal. A problemática escolhida foi a gravidez em jovens adolescentes. Como já foi dito, a comunicação é constituída de sentidos que se transformam e se especificam nas relações reversíveis entre percepção e expressão. A percepção é uma combinação de presenças e ausências, tendo como pano de fundo uma grande variedade de horizontes, mediadas pelo corpo e situação. A intensidade das presenças e a clareza dos horizontes variam muito ficando vulneráveis às determinações do corpo e da situação.

Recorrendo novamente à Tabela 2 e procedendo uma leitura horizontal (caso a caso) nas colunas dois e três, temos em cada célula uma presença que pode se tornar uma ausência, quando já não é, por constituição, uma ausência. Por presenças entende-se a compreensão confusa, incompleta ou difusa da sexualidade e de suas implicações. Uma compreensão problemática que, refeita a cada momento pelo peso da significação corporal e do convite situacional, transforma-se em comportamento de risco.

As histórias de gravidez destas jovens mostram a existência de uma rede de sinais que não foi decodificada com clareza. Houve dificuldades na preparação para recebimento de sinais eventuais como, por exemplo, a menarca. Sinais que solicitavam informações específicas em tempos determinados foram ignorados e a relação interpessoal que poderia transformar informação em comunicação não ocorreu. Os esforços de recuperação, confrontação, contraste ou confirmação dos sinais foram malsucedidos. Nestes termos, o sistema semiótico enquanto tal não pôde atualizar-se e, quando foi atualizado no comportamento, confirmou a mensagem que se temia e se queria evitar.

As histórias revelam e, com isso, certamente refletem o impacto do mundo circundante, evidenciando uma percepção de sexualidade que se configura a partir de expectativas e fantasias. Elas destacam a regra do querer imediato dos dias atuais e a presença da mulher moderna, que busca tomar iniciativas. No entanto, se por um lado mostram uma mulher desejante e pronta para viver a sua sexualidade, por outro indicam que esse desejo nem sempre se expressa de uma forma responsável.

A rede semiótica evidenciada pelas histórias das jovens sugere que as possibilidades de prevenção passam necessariamente pelo diálogo. Um diálogo cultivado em uma atmosfera comunicativa com um outro que inspire confiança e esteja informado sobre sexualidade humana. Este outro do diálogo, seja a mãe, o pai ou ambos, deve estar preparado para separar as memórias de suas experiências sexuais de adolescência e mesmo seus problemas e anseios sexuais atuais, dos costumes e valores que contextualizam a vida das filhas. Deve estar pronto para desafiar seu medo de antecipar o que no seu entender não deve ser antecipado e saber lidar com movimentos culturais e contraculturais do que é aceitável para um determinado momento. Por exemplo, questões que estão subjacentes ao diálogo são: a vida sexual das jovens deve iniciar logo depois da menarca? É desejável que espere um pouco mais? É recomendável deixar para depois do casamento? É interessante manter relações com muitos parceiros?

A comunicação interpessoal esclarece e fortalece a comunicação intrapessoal por permitir uma atualização constante do que é compreendido. Como já foi dito, o adolescente tem dificuldades em diferenciar seus pensamentos e sentimentos dos pensamentos e sentimentos de outras pessoas (Elkind, 1967). A interpretação do presente estudo sugere, no entanto, que esses pensamentos e sentimentos poderão ser esclarecidos e diferenciados nas relações comunicativas.

Foucault (1988/1993) captou com muita propriedade a relação entre sexualidade e comunicação. Ele observou que a partir do século XIX, a sexualidade passou a ser regulada pela discursividade, especialmente pela confissão, em substituição às técnicas repressivas anteriormente utilizadas. A revelação de segredos sobre a sexualidade inaugurada com a confissão religiosa foi gradualmente ampliando-se para outras áreas como a pedagogia, a medicina e a psiquiatria. Foucault (1993) redefiniu o conceito de confissão para que pudesse ser aplicado não somente às infrações das leis do sexo, como era exigido na confissão religiosa, mas também à tarefa exaustiva e freqüente de dizer, a si mesmo e aos outros, sem omissões e em mínimos detalhes, tudo o que possa se relacionar com o jogo dos prazeres. A confissão, assim entendida, abriria o acesso ao desejo e aos processos patológicos, que poderiam levar ao conhecimento do sujeito em sua verdade. As considerações de Foucault sugerem a interpretação de que as jovens, ao exercerem sua sexualidade, estão também buscando o prazer de conhecer a si mesmas, e não apenas o prazer sexual. A verdade do sujeito, de fato, se sustenta na sua condição de intérprete, o que caracteriza, e neste sentido iguala, todos os seres humanos (Wiley, 1996). A verdade sobre a sexualidade apresenta-se para estas jovens comprometida pelas contradições informativas sobre prazer e riscos, e pela ambigüidade comunicativa de seus interlocutores. No entanto, uma verdade as jovens logo descobrem: o sexo e o prazer só podem ser conhecidos na própria experiência, uma experiência que as levará ao conhecimento de si mesmas. A revelação desta verdade a um outro significativo, no caso a mãe, o pai, a tia, ou a amiga seria o caminho para o próprio esclarecimento da verdade, enquanto interpretação da sexualidade e de si. Ao fazê-lo, espera-se que o outro a auxilie a decifrar essa verdade oculta e a ajude a clarificar esse desconhecido.

Conclusões

O estudo focalizou a função mediadora da comunicação familiar na regulação da iniciação sexual das filhas e no uso de práticas contraceptivas. A comunicação familiar foi analisada em quatro contextos: 1) a menarca, que foi especificada como um sinal visível da qualidade relacional entre mãe e filha, e como uma oportunidade para um primeiro reconhecimento da ocorrência ou não de algum tipo de orientação sexual em família; 2) a conversa sobre sexualidade e prevenção em família que foi definida como o reconhecimento da interlocução preferencial com a mãe e do perfil de outros interlocutores de uma rede semiótica que influi na construção do sentido de sexualidade e anticoncepção; 3) a qualidade das conversas sobre sexualidade e prevenção que foi destacada como indicação da limitação da informação oferecida e da dificuldade encontrada na comunicação; e, 4) a história da iniciação sexual das jovens, que mostrou os diferentes modos de preparação das adolescentes para a escolha e encontro com o futuro parceiro.

As análises dos quatro contextos apontaram para problemas nas esferas informativas e comunicativas das jovens para a vida sexual. Informação é aqui definida como redução de incerteza por exclusão (Lanigan, 1992). No caso da orientação sexual, a informação refere-se a contextos determinados que caracterizam a sexualidade humana e suas implicações. Estes contextos são, por exemplo, a anatomia e fisiologia da sexualidade, o desenvolvimento sexual nos seres humanos, doenças sexuais, técnicas para a realização do ato sexual, e métodos anticoncepcionais. A lógica informativa é digital e mostra o que é certo ou errado em cada um dos contextos mencionados, por exemplo, quando e como usar um determinado método anticoncepcional. Em contraste, comunicação é aqui definida como a constituição de certeza por combinação (Lanigan, 1992). No caso da orientação sexual, a comunicação ocorre na escolha de contextos que proporcionem uma compreensão experiencial da mensagem, efetivando-se através de um diálogo no qual o orientando possa falar de si e sentir-se ouvido (ver Foucault, 1988/1993). O contraste entre os modos informativo e comunicativo indica ainda que a riqueza da informação não substitui, em princípio, a intimidade da comunicação. As entrevistas analisadas mostraram que a informação foi parcial e incompleta, que a comunicação esteve comprometida por falta de confiança no interlocutor preferencial (no caso, a mãe) e que a rede de apoio constituído por tias e amigas não trouxe os esclarecimentos necessários.

As histórias confirmaram que a liberdade sexual não está se fazendo acompanhar de uma discussão franca e informada sobre o assunto (Desser, 1993; Silva e cols., 1980), embora sugiram que as jovens de hoje buscam se identificar com a imagem de uma mulher que toma iniciativas e procura manter o controle de sua sexualidade. Nesse sentido, as narrativas não confirmaram a expressão de inocência do amor romântico como descrita por Desser (1993) e Giddens (1992). Ao contrário, a oportunidade para o ato sexual foi ansiosamente buscada e, até mesmo, planejada. A comparação dos resultados deste estudo com os trabalhos citados ressalta três aspectos importantes sobre a gravidez na adolescência. Primeiro, reafirma a liberdade e iniciativa da mulher em relação à sexualidade; segundo, confirma a ausência de discussão franca e informada sobre sexualidade; e terceiro substitui o mito do amor romântico pela expectativa clara de um encontro sexual prazeroso.

Os três aspectos mencionados podem ser reduzidos para dois conjuntos semióticos interligados: a semiótica do intérprete, no caso a jovem sexualmente receptiva, e a semiótica da interlocução, no caso um outro preparado para discutir francamente as interpretações de sexualidade. A semiótica da interlocução pressupõe um outro sexualmente informado e capaz de estabelecer um ambiente relacional seguro e afável. Pressupõe ainda uma percepção de tempo para saber quando ouvir e quando falar e o quê falar, além da suspensão de suas próprias dificuldades e fantasias sexuais, e conflitos morais. Convenhamos que tal habilidade é extraordinariamente complexa. Por outro lado, a semiótica do intérprete age através de diferentes perspectivas temporais (passado, presente, futuro), movendo-se entre elas em diferentes graus de clareza, mediadas pela condição corporal em uma determinada situação. O intérprete é movido pelas regras lógicas da comunicação, isto é, cria os seus próprios contextos a partir da circularidade temporal de seus pensamentos (lembranças e antecipações) e da força corporal desencadeada pela situação (no aqui-e-agora). O desenvolvimento e maturação da capacidade do sujeito interpretar sua sexualidade e regulá-la de maneira autônoma se dá através do diálogo qualificado, que não se evidenciou nas histórias analisadas. A literatura tem se preocupado com as condições cognitivas do intérprete (Elkind, 1967; Holhmebeck, Crossman, Wandrey & Gasiewski, 1994) e com suas motivações inconscientes (Blos, 1962/1994; Fleeming, 1994). O presente estudo não afasta essas possibilidades, mas as suspende para ressaltar a condição pragmática e visível do diálogo e da corporalidade situacional. Ao mesmo tempo, sugere que o fortalecimento e instrumentação do diálogo entre mãe e filha, e entre a filha e os pais, poderá prevenir a gestação na adolescência conseqüente de motivações inconscientes.

Este estudo evidenciou que a gravidez na adolescência é e continuará sendo um motivo de impasse no meio familiar, além de trazer inúmeras conseqüências sociais e econômicas. Diante da notória dificuldade existente na relação entre mãe e filha no que diz respeito à sexualidade recomenda-se que programas de orientação sexual incluam a preparação dos pais em habilidades informativas e comunicativas. O presente estudo reconhece, todavia, que mesmo com grandes esforços no incentivo de bons programas de orientação sexual para mães, pais, filhas e filhos os resultados deverão ser modestos. No entanto, a gravidez na adolescência é uma questão que deve estar permanentemente em pauta e merece investimentos em pesquisa e em programas preventivos. Deve-se considerar que se grandes investimentos em programas de orientação conduzem a resultados modestos, a falta de investimentos produz resultados catastróficos.

Recomenda-se, ainda, que futuras pesquisas associem métodos qualitativos com métodos quantitativos, de tal modo que um conjunto de diferentes perspectivas seja adequadamente verificada. Também espera-se que os próximos estudos qualitativos possam incluir diferentes populações, com diferentes condições econômicas e educacionais.

Referências

Recebido em 06.11.98

Revisado em 28.04.99

Aceito em 21.06.99

Sobre os autores:

Ana Cristina Garcia Dias é Psicóloga e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nesta Universidade foi também bolsista de iniciação científica pelo CNPq e bolsista no mestrado pela CAPES. Atualmente, está matriculada no Curso de Doutorado em Psicologia da Universidade de São Paulo.

William Barbosa Gomes é Psicólogo pela Universidade Católica de Pernambuco (1971) e Doutor em Educação pela Southern Illinois University - Carbondale, Estados Unidos. É Professor do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo participado ativamente da organização dos cursos de mestrado e doutorado em Psicologia do Desenvolvimento desta Instituição. Foi o fundador e primeiro editor da Revista Psicologia: Reflexão e Crítica. Nos últimos quatro anos atuou como membro da Comissão de Especialista de Ensino em Psicologia da SESu/MEC.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Jul 2000
    • Data do Fascículo
      2000

    Histórico

    • Aceito
      21 Jun 1999
    • Revisado
      28 Abr 1999
    • Recebido
      06 Nov 1998
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