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A interação sincronia/diacronia no estudo da sintaxe

The interaction synchrony/diachrony in the study of syntax

Resumos

Nas pesquisas funcionalistas mais recentes nota-se uma orientação cada vez mais acentuada para a investigação histórica dos fatos lingüísticos, associada à descrição sincrônica. A interação/interdependência sincronia/diacronia é fundamental na compreensão do processo de gramaticalização. Além do exame sincrônico das formas gramaticais como um fenômeno discursivo-pragmático, primariamente sintático, cabe também investigar a origem dessas formas no discurso e as trajetórias de mudança por que passam. Estudos sobre a trajetória e configuração atual de itens como `onde' e `ir', ou de processos como integração sintática por encaixamento, ou de processos como repetição e negação, atestam as vantagens dessa interação, que resulta na abordagem pancrônica.

Pancronia; Sincronia; Diacronia; Funcionalismo; Mudança lingüística


In the more recent functionalist researches one can notice a strong tendency toward the historical investigation of linguistic facts, together with synchronic descriptions. The interaction and interdependence synchrony/ diachrony is central to the understanding of the process of grammaticalization since, besides the synchronic analysis of grammatical forms as a discourse-pragmatic phenomenon, primarily syntactic, one should also investigate the origin of these forms in discourse and the paths of change along which they proceed. Studies on the trajectory and current configuration of items such as `onde' and `ir', of processes such as syntactic integration by embedding or of processes such as repetition and negation, give evidence of this interaction, which results in the panchronic approach.

Panchrony; Synchrony; Diachrony; Functionalism; Linguistic change


A Interação Sincronia/Diacronia no Estudo da Sintaxe** Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada na forma de Comunicação Coordenada no I Simpósio Nacional de Estudos Lingüísticos na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, em setembro de 1997. Agradecemos aqueles que, na ocasião, trouxeram valiosas sugestões no sentido do aprimoramento do presente texto.

(The Interaction Synchrony/Diachrony in the Study of Syntax)

Maria Angélica FURTADO DA CUNHA

U. Federal do Rio Grande do Norte

Mariangela Rios de OLIVEIRA (Universidade Federal Fluminense)

Sebastião VOTRE (Universidade Federal Fluminense)

ABSTRACT: In the more recent functionalist researches one can notice a strong tendency toward the historical investigation of linguistic facts, together with synchronic descriptions. The interaction and interdependence synchrony/ diachrony is central to the understanding of the process of grammaticalization since, besides the synchronic analysis of grammatical forms as a discourse-pragmatic phenomenon, primarily syntactic, one should also investigate the origin of these forms in discourse and the paths of change along which they proceed. Studies on the trajectory and current configuration of items such as `onde' and `ir', of processes such as syntactic integration by embedding or of processes such as repetition and negation, give evidence of this interaction, which results in the panchronic approach.

RESUMO: Nas pesquisas funcionalistas mais recentes nota-se uma orientação cada vez mais acentuada para a investigação histórica dos fatos lingüísticos, associada à descrição sincrônica. A interação/interdependência sincronia/diacronia é fundamental na compreensão do processo de gramaticalização. Além do exame sincrônico das formas gramaticais como um fenômeno discursivo-pragmático, primariamente sintático, cabe também investigar a origem dessas formas no discurso e as trajetórias de mudança por que passam. Estudos sobre a trajetória e configuração atual de itens como `onde' e `ir', ou de processos como integração sintática por encaixamento, ou de processos como repetição e negação, atestam as vantagens dessa interação, que resulta na abordagem pancrônica.

KEY WORDS: Panchrony; Synchrony; Diachrony; Functionalism; Linguistic change.

PALAVRAS-CHAVE: Pancronia; Sincronia; Diacronia; Funcionalismo; Mudança lingüística.

0. Introdução

As reflexões contidas neste texto são em parte produto do estágio de pós-doutorado da primeira autora em Santa Barbara e, em parte, fruto das leituras acumuladas na área, sobretudo Givón, Hopper, Traugott, Bybee e Thompson, entre outros. O texto focaliza a consolidação de algumas tendências presentes na literatura especializada que apontam para o fim da dicotomia sincronia/diacronia. Nota-se, sobretudo, uma orientação cada vez mais acentuada para a investigação histórica dos fatos lingüísticos, associada à descrição sincrônica de cada item ou processo. Há um novo consenso de que a interação e interdependência entre sincronia e diacronia é central para o estudo do processo de gramaticalização, entendido aqui como regularização ou convencionalização. No caso do português, falecem-nos fontes fidedignas, quer da origem, quer do desenvolvimento de muitos fatos sintáticos, hoje regulares/convencionais, ou em vias de regularização. Estudar a mudança lingüística, nesse quadro, envolve o estudo e a comparação de estágios lingüísticos distintos, recuando a partir do presente até o português arcaico, utilizando modelos e princípios descritivos desenvolvidos nas pesquisas sincrônicas. Esses modelos sincrônicos podem ser testados a partir de dados históricos e só podem ser considerados completos se permitirem a incorporação da mudança na gramática. A combinação de informação sincrônica e diacrônica, no que se caracteriza como uma abordagem pancrônica do estudo da língua, pode fornecer uma descrição mais densa, com possibilidade de compreensão mais completa dos fenômenos sob investigação. Estudos sobre a trajetória e configuração atual de itens como onde e ir, ou de processos como integração sintática por encaixamento, ou processos de repetição e negação, atestam as vantagens dessa interação, que resulta na abordagem pancrônica.

1. Consolidação da tendência pancrônica na lingüística funcional11 As idéias desta seção do artigo resultam sobretudo da pesquisa da professora Angélica Furtado.

Um primeiro ponto que gostaríamos de abordar é a questão do resgate da diacronia. Nos estudos funcionalistas mais recentes, nota-se, se não o fim da dicotomia sincronia/diacronia, ao menos uma orientação cada vez mais acentuada para a investigação histórica, diacrônica, dos fatos lingüísticos, associada à descrição sincrônica.

Fazendo um retrospecto dos anos 60-70, constatamos que a lingüística formalista seguia orientação fortemente sincrônica, tanto em suas abordagens quanto em seus pressupostos, o que significa relegar os fatores históricos a segundo plano ou até mesmo excluí-los. A mudança lingüística, e aí se inclui a gramaticalização, era vista como conjuntos de ajustes a regras, ajustes esses confinados a um estágio inicial e um estágio final, sem interesse pelo processo gradual que se desenvolveu entre esses estágios. Nesse contexto, o processo de gramaticalização se coloca como um desafio às abordagens lingüísticas que postulam categorias discretas inseridas/dispostas em sistemas rígidos e estáveis.

Na tentativa de derivar as mudanças lingüísticas de leis gerais, parece ser mais esclarecedor servir-se de explicações funcionais, sejam elas comunicativas ou cognitivas, ao invés de formais, e recorrer a tendências naturais, ao invés da postulação de leis rígidas. Além disso, parece que sincronia e diacronia não podem, na prática, ser tão separadas como admitia Saussure. As línguas têm um passado, e o estado sincrônico é uma função desse desenvolvimento passado. Segue-se, daí, que, embora a investigação histórica possa ser subseqüente à análise sincrônica, dado que envolve a comparação de estados sincrônicos sucessivos, uma teoria lingüística preocupada com a questão da mudança deve envolver a dimensão diacrônica. Sincronia e diacronia estão, portanto, entrelaçadas.

A interação e interdependência entre sincronia e diacronia é fundamental na compreensão do processo de gramaticalização já que, além do exame das formas gramaticais como um fenômeno discursivo-pragmático, primariamente sintático, cabe também investigar a origem dessas formas e os caminhos/trajetórias de mudança por que passam.

Estudar a mudança lingüística - intrínseca à gramaticalização - envolve a pesquisa e a comparação de estágios lingüísticos distintos, utilizando modelos ou teorias desenvolvidos nas pesquisas sincrônicas. Por outro lado, esses modelos podem ser testados a partir de dados históricos, e só podem ser considerados completos se permitirem a incorporação da mudança na gramática. A combinação de informação sincrônica e diacrônica, no que se caracteriza como uma abordagem pancrônica do estudo da língua, fornece uma descrição mais densa, com possibilidade de explicação mais completa do fenômeno sob investigação. Estamos, portanto, admitindo que o estudo lingüístico sincrônico está intricadamente associado ao diacrônico.

Uma perspectiva diacrônica pode oferecer mais do que simplesmente um comentário histórico interessante a respeito dos fatos sincrônicos. Como dizem Hopper & Traugott (1993), os próprios fatos sincrônicos são indistinguíveis dos processos diacrônicos e discursivo-pragmáticos nos quais eles são surpreendidos. Assim, a morfossintaxe sincrônica pode ser entendida como o reflexo temporário/provisório, e não necessariamente estável, de mudanças em processo.

Há várias razões pelas quais uma abordagem diacrônica é desejável. Em primeiro lugar, ela aumenta o poder explanatório da teoria lingüística. Demonstrar que uma dada forma ou construção desempenha determinada função não justifica a existência dessa forma ou construção. É necessário, também, tentar mostrar como essa forma ou construção veio a ter essa função. O estado sincrônico é resultado de um desenvolvimento passado que continua no presente. O princípio do uniformitarismo, que se tornou um ingrediente essencial em grande parte das pesquisas lingüísticas históricas (cf. Labov, 1974; Romaine, 1982), prevê que tendências hoje em curso devem ter atuado em estágios anteriores e possivelmente continuarão a atuar. Segundo Hopper & Traugott (1993:38), isso significa que, operacionalmente, não se pode reconstruir nenhuma regra ou gramática para uma língua morta que não seja atestada em uma língua viva. Desse modo, há boas razões para se postular que a gramaticalização ocorreu em línguas faladas há 10 mil anos atrás de modo bastante semelhante ao que se verifica hoje.

Vejamos um exemplo. O estudo da locução formada pelo verbo ir, na forma do presente, acompanhando um verbo no infinitivo não flexionado, é usada no português contemporâneo para indicar futuro, como nesse trecho retirado do corpus Discurso & Gramática, de Natal:

(1) Bem, a minha opinião sobre o namoro é que está muito avançado, porque esses rapazes de hoje não pensa no amanhã que vai ser. (Lúcia, 8a série)

A comparação entre o português, o francês e o espanhol modernos mostra que as três línguas utilizam a mesma estratégia de marcação do tempo futuro. Em francês, temos:

(2) a. Je vais aller à la plage.

b. Je vais faire des courses.

E, em espanhol:

(3) a. El Sábado voy a ir al baile.

b. Yo voy a hacer una dieta.

Ou seja, afirmar que o futuro é expresso em português pela locução irPRES + VINFINITIVO não é suficiente. É preciso olhar para trás e procurar no passado a origem comum desse mecanismo de codificação do português, do francês e do espanhol. Assim, eventos passados podem lançar luz sobre situações presentes, de modo que podemos compreender melhor sistemas correntes considerando como eles surgiram. A investigação diacrônica pode iluminar a sincronia na medida em que as mudanças históricas são, muitas vezes, preservadas na estrutura sincrônica.

Uma segunda justificativa para o estudo diacrônico é que os fatores cognitivos e comunicativos que subjazem ao significado gramatical são mais claramente revelados à medida que a mudança ocorre, ou seja, em situações de dinamismo ao invés de situações de estabilidade. Dado que os elementos lingüísticos são altamente convencionais e usados inconscientemente, podem ser descritos e interpretados de vários modos, mas a natureza da mudança geralmente aponta para a interpretação que é adequada (cf. Bybee et al., 1994).

Em terceiro lugar, a língua não apresenta uma organização estável do significado, uma vez que este está constantemente mudando: a língua não é, mas está. Considerar a fatia sincrônica como apenas um estágio em uma longa série de desenvolvimentos ajuda-nos a explicar/entender a natureza da gramática num momento particular. Tomemos um caso específico. No estudo da polissemia do pronome/advérbio onde, Bezerra Oliveira (1997) investigou a trajetória de abstratização espaço > tempo > texto no português sincrônico. Os exemplos seguintes ilustram esse movimento do onde:

(4) Já se optarmos pelo Pastel, precisaremos de um lugar com melhores condições de trabalho, tal como uma sala arejada ou um atelier onde as condições físicas do ambiente não tenham muitas variações. (Ítalo, 3o grau)

(5) ... quando chegou no acampamento ... ele pegou a comida que tava junto e dividiu ... sendo que ... cada pessoa comia de cada coisa uma ... ou seja ... o que eu levei ... eu não comi sozinho ... eu tive que dividir com todos os amigos ... depois disso teve a noite onde foi escolhido o grupo de cinco pessoas mais ou menos ... (Emerson, 8a série)

(6) O meu forte mesmo, é ampliar desenhos. Onde eu acho um desafio. Pois eu tenho de chegar à perfeição. (Ítalo, 3o grau)

A pesquisa sobre os sentidos do onde em textos que abrangem desde o latim clássico até o português do século XVIII mostrou que há uma regularidade no processo de metaforização na medida em que os sentidos de tempo e texto foram constatados em alguns textos medievais. O exame da evolução histórica do onde revelou que essa trajetória de abstratização é um caso remanescente de estágios anteriores da língua, em vez de uma inovação a ser explicada no âmbito estrito da sincronia.

Finalmente, as generalizações são mais efetivamente formuladas como generalizações sobre rotas ou trajetórias de desenvolvimento do que como generalizações sobre estados sincrônicos; a diacronia fornece explicações mais reveladoras das correlações entre forma e significado ou função (como se pode ler em Bybee et alii, 1994 e Mc Mahon, 1995).

Pensamos que a gramaticalização deve ser concebida como um processo pancrônico que apresenta uma perspectiva diacrônica, já que envolve mudança, e uma perspectiva sincrônica, já que implica variação que pode ser descrita como um sistema sem referência a tempo. Uma vez que um elemento lingüístico - palavra ou construção - é capaz de adquirir e reter novos sentidos e usos sem perder os antigos, seu estudo requer uma perspectiva pancrônica. Nesse sentido, dizemos que a lingüística funcional é essencialmente pancrônica, pois os princípios que a norteiam podem ser aplicados quer aos padrões fluidos do uso da língua que se observam num corte sincrônico, quer aos processos de mudança que se depreendem na trajetória diacrônica.

Um outro ponto que gostaríamos de enfocar diz respeito à freqüência de uso, e conseqüente desgaste, das formas lingüísticas. Se considerarmos que a hipótese básica do funcionalismo é que sobretudo o uso da língua molda a gramática, a repetição ou freqüência de ocorrência de um item ou construção é o mecanismo através do qual esse processo de modelagem da língua ocorre (cf. Givón, 1979; Du Bois, 1985; Hopper, 1987; Hopper & Thompson, 1993). O exame de generalizações translingüísticas desenvolvido por esses autores leva à conclusão de que a gramática é primariamente modelada por generalização nos padrões de uso.

O interesse pela abordagem diacrônica no estudo da gramaticalização faz surgir a questão das condições que propiciam a sua ocorrência. Na literatura são arrolados fatores como saliência perceptual, conteúdo semântico e freqüência de uso da forma candidata à gramaticalização. Assim, do conjunto de fenômenos correlacionados que motiva a gramaticalização, e portanto, a regularização e fixação, a freqüência é considerada como um dos mais relevantes. Quanto mais freqüente a forma, mais gramaticalizada ela é. A freqüência textual de um item é, portanto, evidência empírica do seu grau de gramaticalização.

Nesse sentido, a gramaticalização é entendida como um modo de rotinização da língua. Quando uma construção deixa de ser um meio inovador de reforçar um aspecto do discurso e se transforma em uma estratégia comum, previsível, a freqüência com que ela ocorre indica que ela passou a ser considerada pela comunidade lingüística como gramatical.

Com base nessas colocações, podemos justificar o uso do verbo ir como marcador de futuro. Os verbos que expressam movimento mais generalizado, ou seja, que não especificam a natureza do movimento, são empregados em um âmbito maior de contextos discursivos. Compare-se ir com andar, caminhar e rastejar, por exemplo. Também por essa razão, são mais freqüentes os verbos de movimento: uma vez que se aplicam a um número maior de contextos, são usados mais freqüentemente. São itens lexicais desse grau de generalidade que tendem a ser usados em construções que sofrem o processo de gramaticalização. (cf. Bybee et al., 1994).

Ao estudar as conseqüências, na sintaxe, da freqüência de ocorrência de uma forma, Bybee & Thompson (1997) ressaltam o efeito da redução e o efeito da conservação. À primeira vista, esses dois efeitos são incompatíveis, já que parecem condicionar resultados opostos: a alta freqüência de uma forma promove a mudança, ao mesmo tempo em que torna a forma resistente à mudança. Contudo, esses dois efeitos se dão em estágios diferentes na vida de uma construção e envolvem dois tipos de mudança de natureza muito diferente. O efeito da redução desempenha um papel central na gramaticalização, enquanto o efeito da conservação interage com um terceiro tipo de efeito, o da alta freqüência do type, em oposição a token.

O efeito da redução tem uma dimensão fonética, sintática e semântica. A mudança fonética avança mais rapidamente em itens de alta freqüência no discurso, como se pode observar na gramaticalização de formas que sofrem redução à medida que sua freqüência cresce, como (está), (não é), xovê (deixa eu ver), bora (vamos embora). Do ponto de vista sintático, seqüências de alta freqüência de uso são processadas como uma fatia única, o que resulta na perda de sua estrutura interna, como se dá com xovê, por exemplo. O desbotamento semântico acompanha a redução fonológica e a perda da estrutura interna dos elementos de alta freqüência. As construções que são mais repetidas perdem seu valor expressivo, o que, por sua vez, permite que elas ocorram com maior freqüência, tendo como conseqüência o desbotamento semântico posterior, gerando um efeito de espiral.

Os exemplos clássicos de desbotamento incluem casos em que expressões originariamente enfáticas perdem esse status e se tornam o modo não-marcado de expressar determinados conteúdos. Tomemos as estratégias de negação no português para ilustrar esse ponto:

(7) a. negativa padrão não + SV:

Com a luz acesa a gente não conseguia dormir.

b. dupla negativa não + SV + não:

Eu não tirei foto não.

c. negativa pós-verbal SV + não:

Tudo eu faço ... sabe? tem isso comigo não.

Vários estudos focalizam a associação da negação com ênfase (Schwegler, 1988; Croft, 1991; Dryer, 1989; Ashby, 1981; Payne, 1985; Hopper & Traugott, 1993; entre outros). A introdução de elementos enfáticos na negação é geralmente explicada pelo fato de que os enunciados negativos quase sempre pressupõem a contraparte positiva no contexto, quer explícita, quer implicitamente (cf. Givón, 1979). A asserção negativa contrasta com a pressuposição positiva e, portanto, induz uma ênfase na asserção negativa. Assim, os negadores enfáticos entram no sistema negativo como indicadores da rejeição enfática da crença explícita ou implícita do ouvinte. Via reanálise, o elemento enfático original se torna posteriormente um negador regular, comum, e o marcador negativo obrigatório é eliminado.

A evolução da partícula negativa pas do francês é um caso bem conhecido do ciclo da negação. No francês informal, pas, que originalmente significava passo e era usado opcionalmente para enfatizar verbos de movimento, estendeu seus contextos sintáticos de tal modo que no francês coloquial moderno ele é usado como o marcador negativo primário. Estamos defendendo a idéia de que a emergência das estratégias de negação no português do Brasil é paralela à observada no francês.

Em primeiro lugar, podemos observar que na negativa padrão o marcador negativo está sofrendo um processo de redução fonológica. No discurso falado rápido, o não acentuado é enfraquecido para num, ou até mesmo para uma simples nasalização, conforme o quadro 1:


Quadro 1: Realização do não nas negativas pré-verbal e dupla

Ao reforçar a informação negativa, ou seja, a negação da pressuposição, o falante acrescenta uma segunda partícula negativa não no fim da oração. Essa partícula pós-verbal pode ser vista como uma estratégia restauradora, que compensa a erosão fonológica do não pré-verbal e seu conseqüente esvaziamento semântico (cf. Furtado da Cunha, 1996).

Sabe-se que a perda de morfologia através da erosão fonológica é uma ocorrência comum, especialmente em palavras monomorfêmicas (cf. Hopper, 1994; Bybee, 1988). Por um lado, há uma tendência para reduzir o sinal falado no discurso rápido. Por outro lado, se uma forma é freqüentemente repetida, ela perde sua força expressiva. Uma estratégia recorrente para recuperar material fonológico é o reforço, através do qual uma construção que se enfraqueceu semanticamente é restaurada pela adição de um segundo morfema. Como resultado, surge uma construção que cobre muito do domínio funcional da forma antiga antes que ela sofresse redução e enfraquecimento. A nova forma tipicamente começa como uma variante usada esporadicamente, sua freqüência aumenta à medida que o tempo passa e, finalmente, ela pode vir a substituir a forma antiga. Como ressalta Hopper (1994: 37), sem dúvida, o evento básico na mudança lingüística é a simples erosão de material fonológico.

Parece plausível concluir que a negativa dupla emerge em resposta ao objetivo do falante de reforçar uma relação que já existe mas se tornou desgastada. A redução fonológica do não pré-verbal reflete o efeito da repetição sobre o significado. A freqüência de uso da negativa pré-verbal cria um potencial para a perda de informação. Portanto, a emergência da negativa dupla é motivada por uma pressão discursiva. A ausência da negativa dupla na escrita fornece evidência positiva de sua origem interacional. Nos textos escritos, o não pré-verbal não sofre redução e, portanto, não há necessidade pragmática para uma nova partícula reforçadora, típica da fala.

Uma evidência para a hipótese de enfraquecimento do não pré-verbal é a construção negativa pós-verbal SV + não. Nesse caso, podemos admitir que a redução do não teria atingido seu estágio final, tendo como resultado a perda ou eliminação completa desse marcador. A baixa ocorrência de negativas pós-verbais nos dados e seu contexto de uso muito restrito parece indicar que o processo de erosão do marcador negativo pós-verbal está ainda em seu estágio inicial.

Desse modo, podemos atestar o papel crucial desempenhado por fatores interacionais na emergência de novas estratégias de negação no português do Brasil. O paradigma de gramaticalização não apenas fornece uma explicação da gênese mas também do comportamento sincrônico e desenvolvimento posterior das construções negativas.

2. A abordagem pancrônica da freqüência de uso22 Esta seção do artigo ficou a cargo da professora Mariangela Rios de Oliveira.

Segundo os pressupostos teóricos do funcionalismo, no continuum do processo de gramaticalização, atuam como fatores de fixação das estruturas gramaticais, dentre outros, parâmetros relativos à freqüência e à adequação semântica das formas que mais tendem à regularização ou sistematização. Além dos citados parâmetros, contribui para essa fixação o princípio de iconicidade, desdobrado em seus três subprincípios: proximidade, quantidade e ordenação linear - todos aplicáveis à explicitação dos processos gerais e mais sistemáticos de repetição.

O parâmetro de freqüência - com destaque especial neste texto - preconiza que a alta recursividade de uma estrutura nas variadas manifestações discursivas faz com que tenda a aumentar a probabilidade dessa estrutura se regularizar lingüisticamente. Há estreita relação entre o efeito de freqüência de usos discursivos e o aparecimento da gramática, como apontam Du Bois (1985), Givón (1995) e Martelotta et alii (1996), dentre outros. Termos repetidos em determinados ambientes textuais motivam certa padronização de uso, num processo típico de estágio inicial de gramaticalização.

O parâmetro de adequação semântica refere-se à tendência de determinados conteúdos serem mais sensíveis ao processo de regularização do que outros. Assim se explicam, por exemplo, as distintas propostas de trajetória metafórica rumo à crescente abstração dos significados assumidas pelo funcionalismo. Sweetser (1990) aponta o percurso universo histórico-social > experiência fundante > ato de fala; Traugott e Heine (1991) sugerem a progressão espaço > (tempo) > texto; Heine et alii (1991) propõem a seqüência corpo > objeto > processo > espaço > tempo > qualificação. Nas três postulações, o caminho rumo ao abstrato, ao desbotamento ou à transferência semântica, tem nos procedimentos de repetição uma de suas estratégias básicas. São os termos concretos do nível lexical, relativos à localização espacial ou ao domínio corporal que, retomados sucessivamente na história das línguas, se transferem para outros campos de referência atingindo o nível gramatical, em estágios cognitivamente mais elaborados e mais abstratos de referencialidade.

O princípio de iconicidade, contraponto da arbitrariedade saussureana, prevê como motivado o binômio unidirecional função > forma. Fundada na relação de um-para-um entre o significado e sua formulação, a iconicidade prevista pelo processo de gramaticalização, a denominada iconicidade diagramática, apresenta-se desdobrada em seus três subprincípios.

O subprincípio da quantidade preconiza que quanto maior, mais imprevisível e saliente for um conteúdo, maior também será a quantidade de forma adotada para sua representação. Este subprincípio guarda estreita relação com o traço freqüência (Traugott e Heine, 1991), anteriormente mencionado como associado à gramaticalização. Em termos de repetição, a questão da saliência informacional se destaca no estudo da quantidade icônica.

O segundo subprincípio, o de proximidade, postula que, quanto mais próximos estiverem dois conteúdos, conceptual e cognitivamente, mais próximas também deverão estar as formas que os representam. O traço proximidade, assim definido por Givón (1995), tem correspondência com o princípio de adjacência, preconizado pelo autor como fator de gramaticalização; segundo este princípio, a distância espaço-temporal na cadeia da fala tende a refletir distância conceptual.

O terceiro subprincípio icônico, o de ordenação linear, estabelece que, quanto mais importante, previsível e temático for um conteúdo, mais sua forma correspondente tenderá a se localizar na parte primeira do enunciado, em posição de destaque. Para a abordagem da repetição, a questão da ordenação linear é de todo relevante. As estratégias que se regularizam encontram-se ordenada e hierarquicamente articuladas segundo padrões determinados pelo uso. A ordenação linear é considerada uma restrição gramatical básica.

Dentre os mecanismos de repetição atuantes pancronicamente na regularização gramatical, tomam-se como exemplos para esta apresentação aqueles relativos ao desenvolvimento e à fixação da referência temporal de futuro, um tipo de freqüência, na terminologia de Bybee e Thompson (1997), observado na história de considerável número de línguas.

Na investigação histórica da trajetória de mudança lingüística, uma das maiores contribuições das estratégias de repetição para a fixação de padrões gramaticais encontra-se no desenvolvimento das marcas de futuro. Em geral, tais marcas têm origem em modelos discursivos de expressão de vontade ou desejo. Retomadas sucessivamente pelos usuários na interação cotidiana, eleitas e regularizadas cada vez mais pela comunidade lingüística, tais marcas acabam passando por um processo de reanálise sintática, em que se fixam como ordem básica para a expressão de sentido futuro. Está iniciado, assim, o caminho rumo à gramaticalização - de uma estrutural opcional, discursiva, para uma ordenação regular, sistemática. A etapa seguinte representa a passagem da sintaxe para a morfologia, com a crescente redução semântica e fonológica prevista em processos como esse.

Em português, assim foi o caminho percorrido na expressão do futuro do presente, exemplificado nas séries hei de falar > falar hei > falarei, correspondentes, de forma geral, à mudança discurso > sintaxe > morfologia. Não se trata tão somente da alteração verificada na integração do plano formal; o conteúdo também passa por transformação, transformação esta identificada fundamentalmente pelo desbotamento semântico do verbo haver, que atinge seu ponto de maior opacidade como desinência modo-temporal, num estágio em que se torna quase imperceptível o sentido inicial de expressão de vontade.

Essas alterações nos planos semântico e sintático são nomeadas por Bybee e Thompson de efeito de redução, uma das conseqüências pancrônicas da freqüência na sintaxe. Segundo as autoras, estruturas lingüísticas altamente repetidas funcionam como estratégias automáticas, à semelhança das demais atividades de produção humana. Em conseqüência desse automatismo, tais estratégias tornam-se cada vez mais eficientes na interação, deixando de representar apenas uma das possíveis alternativas de comunicação e passando a constituir a estrutura gramatical consagrada pela comunidade lingüística.

A gramaticalização da expressão de futuro em português comprova também o segundo efeito de freqüência na sintaxe proposto por Bybee e Thompson, complementar ao efeito de redução referido - trata-se do efeito de conservação, segundo o qual, a retomada freqüente de uma forma faz com que sua representação seja cada vez mais fixada, facilitando sua acessibilidade em novas oportunidades. Uma das conseqüências mais visíveis do efeito de conservação das estruturas lingüísticas estaria nos casos de irregularidade, comprovadores da retenção pela repetição. Através do efeito de conservação assim proposto, seria justificável a alomorfia da desinência -rei na primeira pessoa do singular, que estaria tão somente retendo sua irregularidade originária, através de hei. Note-se que, mesmo diante de tantas alterações e reduções funcionais e formais sofridas por esta expressão de futuro português, foi conservada a singularidade alomórfica de tal referência.

Assim posto, é possível constatar que as estratégias de repetição, ao longo da história dos fatos lingüísticos, têm produzido dois resultados distintos e complementares, responsáveis tanto por desgaste e degeneração (efeito de redução) como, por outro lado, por retenção e singularização (efeito de conservação). Esses dois efeitos respondem, respectivamente, pelos fenômenos de automação e de irregularidade verificados nos padrões gramaticais das línguas em geral.

A evidência do caráter pancrônico desse processo, que conjuga reanálise sintática e mudança ou conservação semântica, se encontra na sincronia atual da língua portuguesa. Nos dias de hoje, embora haja à disposição dos usuários uma desinência verbal gramaticalizada para a representação futura, com suas marcas flexionais sistemáticas, há forte tendência para a utilização de perífrases para essa representação. Através da repetição, fica cada vez mais regular e automático no português do Brasil o uso de sintagmas do tipo vou falar, ao invés de falarei; vai falar, no lugar de falará; ou ainda vamos falar, mais freqüente do que falaremos. Trata-se de procedimento semelhante ao verificado com o futuro do presente em sua evolução desde a origem latina. Tal como haver, a forma verbal ir encontra-se, nesse processo, mais abstratizada. A idéia básica de deslocamento no espaço transfere-se para deslocamento no tempo, confirmando a trajetória da mudança lingüística assumida pelo funcionalismo.

Outra estrutura resultante da reanálise de padrões discursivos como padrões gramaticais, exemplificadora do efeito de freqüência na sintaxe e que vem progressivamente se regularizando no uso coloquial e oral para a representação de obrigatoriedade, de um fazer futuro, é o sintagma ter que + infinitivo. Em tenho que falar, tem que falar ou temos que falar, não há praticamente mais condição de se identificar alguma autonomia da forma verbal ter, seja do ponto de vista semântico (a idéia concreta de posse foi perdida) ou sintático (não se pode lhe atribuir status oracional pleno). O fato de essa expressão se encontrar assim tão fortemente vinculada conceptual e formalmente, na representação e fixação de uma organização semântico-sintática, indica tratar-se de um processo de gramaticalização em pleno curso, desencadeado pela alta recursividade, pela contínua reiteração por parte dos usuários desse arranjo estrutural.

Séries como tenho que falar/vou falar/falarei, tem que falar/vai falar/falará ou ainda temos que falar/vamos falar/falaremos configuram-se como formas em competição momentânea na história do português, conforme se encontra em Hopper (1991). Representam distintas camadas polissêmicas que passaram a integrar o paradigma gramatical em diferentes estágios da mudança lingüística. Séries como essas convivem durante períodos indetermináveis, possuem idades distintas (as mais recentes são as mais extensas em termos formais) e funcionam complementarmente na representação da referência de futuro, condicionadas que estão a variáveis como: tipo de texto, modalidade e grau de formalidade, dentre outras.

Segundo Bybee (1988), a trajetória de mudança dos sentidos lexicais rumo aos gramaticais pode ser identificada numa mesma língua, por intermédio da investigação de suas distintas etapas de evolução, ou translingüisticamente, através da análise de várias línguas. Dados relativos a outras línguas vêm confirmar o caráter pancrônico do efeito da freqüência de uso na referência de futuro. Um exemplo clássico utilizado pelo funcionalismo nessa demonstração é o que ocorre com o Tok Pisin, língua originária do pidgin de mesmo nome de Papua/Nova Guiné, como demonstram Sankoff e Brown (1976), em A origem da sintaxe no discurso. A forma de representação de futuro nessa língua é o que resulta da redução semântica e estrutural de um termo adverbial de tempo que, usado reiteradamente, passa a assumir uma designação modo-temporal de futuro, através da trajetória bai em bai (daqui a pouco; pouco a pouco) > bambai > bai (morfema modo-temporal de futuro).

Meillet (1948), em A evolução das formas gramaticais, atesta a tendência generalizada de utilização de formas de manifestação de intencionalidade para indicar ações ainda não realizadas, originado-se, assim, paradigmas gramaticais de tempo futuro nas línguas em geral. Ao exemplificar o efeito de tal uso, o autor destaca uma das expressões de futuro do francês na atualidade - paralelo ao que já verificamos no português - que se origina da evolução j'ai a finir > je finir ai > je finirai. Constata Meillet que o verbo avoir, em situações como essa, não mais preserva o sentido original de posse, perdendo seu valor expressivo concreto, uma vez que se encontra intrinsecamente unido à forma infinitiva. Conclui o autor, antecipando-se à proposta funcionalista da origem discursiva da gramática, que o desejo de expressão gera estruturas sintáticas que, pela freqüência de uso, perdem status informacional, abstratizam-se, e passam a funcionar como formas gramaticais, mais integradas conceptual e formalmente.

Meillet destaca a sintaxe como primeiro nível de gramaticalização, como conseqüência natural e previsível da consagração e da convencionalização pela interação social lingüística. Para ele, se a ordem em latim era questão expressiva ou pragmaticamente condicionada, nas línguas românicas a situação é outra: a ordem possui valor gramatical, com implicações sintáticas, morfológicas e fonético-fonológicas.

A expressão de futuro do inglês representada pela forma will também resulta do efeito de freqüência de uso. Okamura (1996) aponta duas funções atuais para essa partícula: uma de referência de futuro, o que chama de futuro puro, e outra de modalização. De acordo com o autor, o futuro puro will, estágio mais gramaticalizado desse termo, tem origem num primitivo item lexical de expressão de desejo ou intenção, que teria se auxiliarizado, perdendo assim o status de verbo pleno; em fase posterior, will reduz sua função à referência de futuro. A partícula will, no inglês atual, possui, portanto, dupla funcionalidade, modal e temporal, evidenciando um processo marcado pela conservação formal e pela redução semântica.

O que procuramos demonstrar aqui são os efeitos de um dos procedimentos mais comuns no uso lingüístico, a repetição, como estratégia de regularização e de convencionalização ao longo da história das línguas. Segundo Haiman (1994), assim como os demais mecanismos que se retomam e automatizam no âmbito cultural, as construções gramaticais são resultado também de estratégias de repetição que conduzem à ritualização e à convencionalização. Através da freqüência de uso, elas se fixam cada vez mais, se tornam sistemáticas, eleitas como padrão da expressão lingüística. Em uma palavra - gramaticalizam-se.

Esse processo, extremamente marcado pelo efeito de redução e parcialmente marcado pelo efeito de conservação, não se resume à alteração ou não da configuração formal das expressões lingüísticas. A freqüência de uso tem estreita correlação com as estratégias de representação mental. São conteúdos que se transformam e especializam; noções que se integram e refinam. Trata-se da passagem da referência lexical, externa, transparente e motivada, para a referência gramatical, interna, progressivamente mais opaca e convencional. Os significados concretos dão lugar às noções lógico-formais. Manifestações de desejo e de intenção, no nível do discurso, são regularizadas para a representação modo-temporal de futuro, no nível da gramática. A criação se transforma em sistematização. Assim ocorre às manifestações culturais, assim ocorre aos usos lingüísticos.

3. A interação sincronia/diacronia na integração sintática33 Esta seção ficou a cargo do professor Sebastião Votre.

No processo de integração sintática por encaixamento no português, temos o ciclo seguinte:

* parataxe > hipotaxe apositiva > subordinação com quod > subordinação com infinitivo e acusativo para sujeito distinto, encaixamento com apagamento de sujeito idêntico da encaixada.

Essa trajetória mantém estreita correlação com os três grandes tipos de verbos. Os verbos proposicionais exprimem, de uma maneira geral, julgamento de ordem intelectual sobre algum fato, como os verbos achar, pensar e saber. Os emotivos exprimem um julgamento de ordem pessoal em que os sujeitos exercem - ou tentam exercer - uma manipulação sobre o sujeito da cláusula subordinada, como querer, deixar e desejar. Os verbos efetivos são os que, concretamente, efetuam os processos contidos no verbo principal, sendo conhecidos como auxiliares - a exemplo de estar, ficar e poder.

Apresentamos a seguir a análise sincrônica e diacrônica do verbo achar, na sua trajetória de integração sintática, que percorre os estágios parataxe > hipotaxe > subordinação > encaixamento no sistema de combinação de cláusulas substantivas no português arcaico e contemporâneo.

A hipótese por nós acolhida prevê que, ao contrário do que propõem os neogramáticos - que fazem a construção com quod posterior à construção sintética -, com os verbos proposicionais, em primeiro lugar deu-se a utilização de quod com função demonstrativa indefinida, em que a cláusula subordinada seguinte tinha caráter de aposto:

(8) Credo quod terra est rotunda.

Segundo nossa hipótese, com o processo de integração semântica e sua contraparte sintática, em algumas construções suprimiu-se o conector quod. Conseqüentemente, resultou:

(9) Credo terra est rotunda.

Entretanto, esse contexto foi alterado por reinterpretação morfo-semântica: o nome terra passou a ser interpretado como objeto direto do verbo credere, assumindo a morfologia de acusativo, de que resultou a reanálise do sujeito da subordinada para acusativo da principal; com isso o verbo da subordinada, sem ter com quem concordar, ficou na forma de infinitivo:

(10) Credo terram esse rotundam.

Estava implantada na língua a construção, altamente integrada, de infinitivo com acusativo.

Esse processo não foi plenamente produtivo. Sobretudo, não foi categórico. Assim, algumas construções, cujos sujeitos dos verbos principais não exerciam manipulação sobre o sujeito da subordinada, mantiveram relativa autonomia sintática da subordinada. É o caso de certos verbos proposicionais, como dizer, falar, declarar. A subordinada mantém sujeito próprio e verbo na forma finita, no modo indicativo:

(11) Eu disse que o dia estava lindo.

Por outro lado, o processo foi altamente produtivo quando se verificava um grau maior de manipulação entre o sujeito do verbo da principal e o sujeito da subordinada, como nos casos de verbos sugestivos, a exemplo de achar, imaginar, pensar, em contextos tensos, em que a sintaxe revela pressão através do futuro do presente e do pretérito na forma subordinada:

(12) Eu acho que você deveria mudar-se pra Paraíba.

(13) Eu imagino que ele deverá sair.

(14) Eu penso que ele deveria sair.

O quadro de pressão e manipulação é mais transparente no caso dos verbos propriamente emotivos, tais como querer, pretender, propor. Nos casos de sujeito distinto, a manipulação do sujeito da principal se manifesta no modo subjuntivo. No caso de sujeito idêntico, entra uma forma reduzida, com apagamento do sujeito na subordinada:

(15) Eu quero que você saia. Eu quero sair.

(16) Eu queria que ele saísse. Eu queria sair.

Utilizamos na parte sincrônica do estudo o corpus Discurso & Gramática - a língua falada e escrita na cidade do Rio de Janeiro. Analisamos as entrevistas dos 93 informantes e todos os textos, orais e escritos, por eles produzidos. Os tipos de textos são: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, descrição de local preferido, relato de procedimento e relato de opinião.

Comparamos os achados com um corpus do português arcaico, centrado em Vita Christi, A Demanda do Santo Graal e Boosco Deleitoso, sabendo embora dos problemas de tal comparação.

Apoiamo-nos fortemente na professora Rosa Virgínia (1991):

"Caracteriza a documentação escrita dessa época a variação. Não apenas variação na grafia - as primeiras propostas de ortografia para o português se iniciam nos meados do século XVI - mas também a variação na morfologia e na sintaxe. Pela variação gráfica se podem depreender indícios de realizações fônicas conviventes então e pela variação morfológica e sintática podem ser percebidas possibilidades estruturais, então em uso, que são indicadores para mudanças que depois vieram a ocorrer e que, a partir da normatização gramatical, a documentação escrita exclui, já que serão sempre algumas das variantes as selecionadas para o uso escrito normativizado das línguas. Com isso queremos pôr em destaque o fato de que o texto escrito do período arcaico se aproxima, em geral, mais da fala do que os textos escritos posteriores à normativização gramatical".

Vejamos os resultados do verbo achar, estudado com auxílio da bolsista de Iniciação Científica do nosso grupo de estudos, Rosa Lucia Pereira Virgílio Neves. O estudo sobre a sincronia e a diacronia do verbo achar oferece pontos para uma reflexão interessante a respeito da integração entre as duas perspectivas: a sincrônica e a diacrônica.

Temos evidência histórica do uso de achar em construção de infinitivo com acusativo no português arcaico, impossível sequer de ser compreendida hoje, o que indica que houve reorganização sintática desse verbo. Examinamos o português arcaico, que se situa entre os séculos XIII e XV, já que esse período marca o início da história escrita da língua portuguesa, precisamente com o Testamento de Afonso II, datado de 1214, e a Notícia do Torto, escrita entre 1214-1216.

Pesquisamos em fontes variadas da época arcaica, e formamos um corpus de 168 ocorrências. Constatamos no corpus arcaico seis cláusulas do verbo achar ocorrendo com o infinitivo de outro verbo mais o acusativo, como nos exemplos que se seguem:

(17) "E mãdou vijnr cõmigo hua muy honrada dona diaconyssa, per nome chamada Romana, a qual, quando ueo, achou iazer aos pees do sancto bispo Nono Pelagia com gran planto e doo." (Crestomatia arcaica - p. 96)

(18) "E seja o vagar e a folga do solitário temperada e branda, e o apartamento do ermo seja assessegado e pacífico e nom cruel e fero, em tal guisa que aqueles que i veerem maravilhem-se da humanidade e da caridade que viirem e acharem morar em o ermo, a qual é vida esterrada das cidades;"

(Boosco Deleitoso - p. 117)

No exemplo (17), pode-se observar a forma verbal "achou iazer" com o objeto direto "a qual", e no exemplo (18) a forma verbal "acharem morar" e o objeto direto "que". Esse tipo de construção, ou seja, infinitivo com acusativo, foi pouco freqüente no corpus, apenas 5,2% das ocorrências. Esse resultado demonstra que essa construção estava sendo pouco utilizada no período arcaico, pelo menos com o verbo achar. Essa forma representa um resíduo do latim no português arcaico que, com o tempo, desapareceu, pois não ocorre no português atual.

Os dados mostram que as formas associam-se a novos significados, num continuum temporal, num processo metafórico unidirecional, em que os significados mais abstratos são derivados progressiva e cumulativamente de sentidos mais concretos.

Segundo essa proposta, a mudança se processa conforme a seguinte escala de abstração crescente: corpo > objeto > processo > espaço > tempo > qualificação. As mudanças processadas em cada item ou construção podem ocorrer ou não em todas as etapas da escala. No nível semântico, constatamos que no latim o verbo achar (afflare) significava primeiramente `soprar'. No entanto, sua evolução semântica e também sintática já se inicia nessa fase. Assim, explica-se a evolução semântica pelo fato de o vocábulo ter origem na linguagem dos caçadores: do sentido primitivo do latim `soprar' passou-se ao de `sentir a proximidade da caça pelo odor', `farejar' e, daí, `descobrir', `encontrar' (a caça). Silva Neto salienta ainda que "a evolução semântica de afflare até achar mostra à evidência que o ato de achar pressupõe uma busca intencional, o resultado de quem, antes, procurou". Quanto à evolução sintática, Silva Neto salienta que "no curso da história da latim muitos verbos intransitivos passaram a construir-se com acusativo, isto é, objeto direto". Assim, "onde se diria, sucessivamente Canis afflat (intransitivo) e Canis afflat venatum (transitivo). De o cão fareja a caça passava-se, naturalmente, a o cão acha a caça".

Podemos considerar que a trajetória de mudança do verbo achar segue as seguintes etapas da escala de Heine: corpo (afflare - soprar) > espaço físico (achar algo no espaço físico), sem passar pela etapa de objeto > processo.

Como já foi dito, a mudança sintática do verbo achar já tinha se processado no latim. Ou seja, de verbo intransitivo passara a construir-se com acusativo, isto é, com objeto direto.

Do princípio da iconicidade, destacamos o subprincípio da adjacência, que é de fundamental importância neste estudo para explicar o grau de integração sintático-semântica do verbo achar em cláusulas com complemento oracional. Segundo esse princípio, "a distância espaço-temporal no fluxo de fala tende a refletir distância conceptual" (Givón, 1995:179). Assim, as estruturas sintáticas mais integradas refletem maior integração no plano conceptual, e as menos integradas refletem menor integração no plano conceptual.

Vejamos o quadro sincrônico. Quanto ao status do verbo, de natureza proposicional, encontramos no corpus estudado 241 cláusulas do verbo achar com complemento oracional. Os sentidos de achar foram classificados a partir da análise dos dados, em três diferentes tipos:

a) proposicional de incerteza epistêmica: (19) acho que ele era nadador... profissional... (Érica - 3o grau);

b) proposicional de percepção: (20) acho que... essa seleção não está boa... apesar de... ter sido... classificada pra final... (José - CA adulto);

c) emotivo de sugestão: (21) eu acho que as pessoas deveriam contribuir... né? (Jorge - 3o grau).

O quadro (2) mostra o número de ocorrências e a freqüência desses três diferentes sentidos do verbo achar e o quadro (3) a sua ocorrência nos diferentes tipos de texto:

Quadro 2: Sentidos do verbo
achar

Quadro 3: Freqüência da ocorrência do verbo achar nos tipos de textos

Verifiquemos agora no corpus sincrônico se ocorre gramaticalização com a expressão epistêmica `eu acho' quando esta encontra-se no final da cláusula, deixando de ser a cláusula principal e passando a ser interpretada como parentético epistêmico (isto é, expressão epistêmica consistindo de um sujeito e de um verbo que aparece no final de uma cláusula). Temos alguma evidência de um possível processo de gramaticalização da construção eu acho, no português falado contemporâneo, não atestado no passado. Para tal, vale confrontar o estudo sobre o português com o estudo correspondente, realizado por Sandra Thompson e Anthony Mulac (1991), sobre as construções I think e I guess, no inglês.

Encontramos no corpus estudado dois casos do verbo achar comportando-se como um `parentético epistêmico'. Como no exemplo seguinte:

(22) aí eu estava no colégio... era... aula de ciências... eu acho (Viviane -8a série);

E no exemplo que se segue:

(23) E: e::... agora eu queria que você me dissesse... como é que é o... o lugar onde você mais gosta de ficar na sua casa...

I: na minha casa... uhn::... (...) geralmente é na cozinha que a gente está conversando... fazendo alguma coisa pra comer... né? enfim...é::... é mais ou menos na cozinha... eu acho... (Regina - 3o grau).

No inglês ocorre um fenômeno semelhante com a expressão I think, como no exemplo de Thompson e Mulac (1991:313), que se transcreve a seguir:

(24) It's just your point of view, you know what you like to do in your spare time I think. (É seu ponto de vista, você sabe o que gosta de fazer em seu tempo livre, eu acho.)

Thompson e Mulac (1991:313) estudaram esse fenômeno, partindo do pressuposto da ligação entre o fenômeno conhecido na gramática inglesa como `that-deletion' (a supressão do that), ilustrado em (25) e (26) e a gramaticalização de expressão epistêmica ilustrada em (26) e (27):

(25) I think that we're definitely moving towards being more technological.

(Eu acho que estamos definitivamente caminhando para ser mais tecnológicos)

(26) I think 0 exercise is really beneficial, to anybody.

(Eu acho exercício é realmente útil para todos)

(27) It's just your point of view know what you like to do in your spare time I think.

(É seu ponto de vista, você sabe o que fazer em seu tempo livre, eu acho)

T & M propõem que "o que tem sido pensado sobre a supressão do that é entendido melhor como uma alternativa entre construções como (25), em que I e think são sujeito e verbo, com that introduzindo uma oração subordinada e construções como (26) e (27) em que o I think é uma expressão epistêmica, representando o grau de comprometimento do falante (Palmer 1986:51, Traugott 1989), funcionando aproximadamente como um advérbio epistêmico, tal como talvez com a oração com que ele está associado." T & M interpretam casos como (26) e (27) como versões gramaticalizadas de (25). O mesmo tendemos a fazer, em relação às construções como (22) e (23).

Em síntese, o olhar para as duas perspectivas, sincrônica e diacrônica, nos permite a) identificar um uso mais integrado de achar no português arcaico, que não mais ocorre no português contemporâneo; b) identificar um uso novo, aparentemente em início de gramaticalização no português contemporâneo, para o qual não temos forma atestada no português arcaico (ou: assim postulada, exatamente por não termos evidência de sua ocorrência naquela fase da língua).

4. Considerações finais

A análise dos fatos aqui desenvolvida sugere que a interação/interdependência sincronia/diacronia é fundamental na compreensão do processo de gramaticalização. Além do exame sincrônico das formas gramaticais como um fenômeno discursivo-pragmático, primariamente sintático, cabe também investigar a origem dessas formas no discurso e as trajetórias de mudança por que passam.

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  • *
    Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada na forma de Comunicação Coordenada no I Simpósio Nacional de Estudos Lingüísticos na Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, em setembro de 1997. Agradecemos aqueles que, na ocasião, trouxeram valiosas sugestões no sentido do aprimoramento do presente texto.
  • 1
    As idéias desta seção do artigo resultam sobretudo da pesquisa da professora Angélica Furtado.
  • 2
    Esta seção do artigo ficou a cargo da professora Mariangela Rios de Oliveira.
  • 3
    Esta seção ficou a cargo do professor Sebastião Votre.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jan 2000
    • Data do Fascículo
      Fev 1999
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